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domingo, 28 de novembro de 2010

Meus 10 filmes preferidos



 ...E O VENTO LEVOU (1939)

O filme mais visto em todo o mundo, é também a obra que melhor representa a Era de Ouro de Hollywood. Uma superprodução vencedora de dez Oscars que conquistou milhões de pessoas em todo o mundo durante mais de 70 anos. Lá pelo final da década de 40, o livro homônimo de Margaret Mitchell chega às mãos do produtor David O. Selznick, este se apaixona pela obra e resolve produzí-la, mal sabendo ele que seria um dos trabalhos mais difíceis da história do cinema. Uma lista enorme de atrizes que concorriam pelo papel de Scarlett O’Hara, Clark Gable foi imposto pelos fãs no papel masculino principal, três diretores passaram pelo projeto (George Cukor, Sam Wood e Victor Fleming, este último recebeu os créditos), e até mesmo o próprio Selznick chegou a dirigir algumas cenas; filmagens atrasadas, orçamento estourado. Mas o sacrifício valeu a pena, ...E o Vento Levou é de longe um os maiores monumentos do cinema. O casal principal feito por Clark Gable e Vivien Leigh entrou para a história. Uma história de amor em que o capitão Reth Butler ama Scarlett O’Hara, mas esta só tem olhos para um homem, já comprometido, durante a Guerra da Secessão. O final nada feliz é marcante e inesquecível, assim como todo o restante da obra. 




 A LISTA DE SCHINDLER (1993)

O diretor Billy Wilder (Crepúsculo dos Deuses) era quem iria dirigir esse projeto baseado no livro de Thomas Kenneally, mas Steven Spielberg acabou dirigindo esta que é sua obra-prima máxima. Um relato triste e cruel da história real de Oskar Schindler (Liam Neesom), um empresário alemão que abre uma fábrica na Polônia e emprega ali vários judeus do Campo de Concentração de Plaszow. No início, Schindler se mostra um homem vaidoso, interessado apenas em lucros e amantes, mas ao presenciar um massacre de judeus pelos nazistas, em especial quando uma menina anda sem rumo tentando sobreviver, Schindler se dá conta de que sua vida boêmia é desprezível em meio a tanta gente morrendo e ele não fazer nada pra mudar tal situação. Com a ajuda de seu auxiliar (Ben Kingsley), ele cria uma lista de judeus para serem negociados com o temível comandante dos nazistas (Ralph Fiennes), para que os mesmos não morram nos Campos e continuem trabalhando para ele. Através de acordos e subornos, Schindler tenta a todo custo mantê-los vivos. Filmado em preto e branco e vencedor de 7 Oscars, A Lista de Schindler é o melhor filme já feito sobre o Holocausto.




 AMOR, SUBLIME AMOR (1961)

O Musical no cinema hoje em dia é um gênero que não tem mais vez, mas durante muito tempo foi um gênero que reinou em Hollywood. Clássicos como O Picolino, Os Sapatinhos Vermelhos, O Pirata, Cantando na Chuva, Sete Noivas Para Sete Irmãos e A Noviça Rebelde, entre tantos outros, encantaram o público que não se cansava de ver astros como Gene Kelly e Fred Astaire fazerem piruetas mirabolantes, sem contar que, ver a Cid Charisse em cena era um deleite para os olhos. De todos os musicais que já vi, o meu preferido é Amor, Sublime Amor, dirigido por Robert Wise (O Dia em que a Terra Parou) em parceria com Jerome Robbins. É um filme mágico, encantador, inesquecível, algo que só poderia sair das mentes criativas da Hollywood clássica. Baseado em Romeu e Julieta de William Shakespeare, Amor, Sublime Amor conta a hitória de um amor impossível entre Maria (Natalie Wood) e Tony (Richard Beymer) em meio à duas gangues rivais pela disputa de teritórios na Nova York dos anos 60. Belíssimas canções fazem desse clássico vencedor de dez Oscars, um filme singular na história da Sétima Arte. 




 CIDADÃO KANE (1941)

Orson Welles (A Marca da Maldade) tinha na época 26 anos quando resolveu fazer Cidadão Kane. Mal sabia ele que não seria um filme qualquer, mas sim aquele que muitos críticos consideram ser o melhor de todos os tempos. Não há qualquer exagero em considerar Cidadão Kane como um filme sem precedentes na história do cinema, pois trata-se de uma obra-prima incontestável, irretocável, onde cada elemento contido nele só o torna ainda mais excelente. Welles revolucionário a arte cinematográfica ao introduzir elementos até então inéditos no cinema, como filmagens de tetos, ângulos de câmeras colocados de forma a se ver o que acontece ao fundo dando a impressão de que estamos dentro do filme, além ainda da forma em que o roteiro nos apresenta uma história não linear, em que os acontecimentos vão e vem sem ter uma preocupação com uma cronologia direta dos fatos apresentados. O filme conta a história do magnata Charles Foster Kane da imprensa, de sua infância pobre quando é separado dos pais e vai viver com um banqueiro que lhe coloca no ramos das comunicações, até suas experiências fracasados nos relacionamentos com mulheres e amantes, culminando em seu fim solitário. Filme indispensável para quem quer estudar e entender a fundo a história do cinema. Vencedor do Oscar de roteiro original. 




 BEN-HUR (1959)

William Wyler foi um dos maiores diretores da Era de Ouro de Hollywood e já havia ganhado dois Oscars de direção por Rosa de Esperança (1942) e Os Melhores Anos de Nossas Vidas (1946). Diretor de vários gêneros, Wyler resolveu se aventurar em um épico para provar que também era capaz de dirigir uma superprodução de época. O resultado não poderia ter sido melhor, pois além de um enorme sucesso nas bilheterias, Ben-Hur conquistou nada menos que 11 Oscars, entre eles de filme, direção (o terceiro prêmio pra Wyler nessa categoria) e ator para Charlton Heston. Recusado por vários atores, o papel de Ben-Hur foi parar nas mãos de Heston que havia feito com Wyler no ano anterior o belo faroeste Da Terra Nascem os Homens. Conta aqui a história de Judah Ben-Hur, um rico judeu que é traído pelo amigo Messala e condenado a viver como escravo. Ele então parte em busca de vingança ao mesmo tempo em que procura a mãe e a irmã que desapareceram. Com belíssimas cenas, entre elas uma magnífica corrida de bigas, Ben-Hur é um filme que mostra um contexto importante da História: a conversão de judeus ao Cristianismo. Baseado no romance fictício de Lew Wallace, Ben-Hur é um dos maiores épicos já feitos em Hollywood.




 MATAR OU MORRER (1952)

Assim como o musical, o gênero faroeste também era muito aceito na fase áurea de Hollywood. O público enchia os cinemas para assistir aos filmes que eram considerados um gênero americano por excelência (depois na Itália foi surgindo os Western-Spaghetti). Diretores como John Ford, Howard Hawks, Anthony Mann, Henry King e Delmer Daves reinaram com os filmes de faroestes americanos. Mas o meu filme de faroeste preferido é dirigido por um diretor conhecido por filmes dramáticos, Fred Zinnemann, ganhador de dois Oscar de direção por À um Passo da Eternidade (1953) e O Homem que não Vendeu Sua Alma (1966). Matar ou Morrer faz parte de um ciclo de faroestes psicológicos que surgiu no final dos anos 40 e se estendeu até o começo dos anos 70. Em Matar ou Morrer, Gary Cooper (que levou seu segundo Oscar de melhor ator por esse filme) interpreta um xerife que depois do casamento, descobre que bandidos presos por ele estão voltando à cidade ao meio-dia para matá-lo. Ele pede ajuda aos moradores, mas ninguém o ajuda e ele se vê sozinho. Um belo filme que fala sobre o isolacionismo, uma clara alusão ao Marcathismo (um movimento “Caça às Bruxas” que se propagou nos anos 50 nos Estados Unidos). A Belíssima Grace Kelly interpreta a esposa de Cooper. Além de melhor ator, o filme ganhou mais 3 Oscars. 





 AMNÉSIA (2000)

O diretor Christopher Nolan ficou famoso quando deu nova vida ao Batman em Batman Begins (2005) e Batman – O Cavaleiro das trevas (2008), e em 2010 agradou críticos e público com A Origem. Mas seu melhor trabalho ainda é Amnésia, um filme diferente de tudo que já se viu nas telas. Para começar, é um filme que tem sua ordem cronológica ao inverso, ou seja, é de trás pra frente. Conta a história de um homem (Guy Pearce) que tem sua esposa violentamente assassinada; ao tentar salvá-la, ele também é vítima do bandido que lhe provoca uma lesão que o deixa com um sério problema: ele não se lembra de nada do que lhe acontece 5 minutos atrás. Ele só sabe que precisa vingar a morte da esposa, e tatua todo seu corpo com inscrições que o levem a novas pistas sobre o assassino. Amnésia é um filme complexo e inteligente, e que no final (ou seria o começo?) faz todo sentido. Não engana o espectador com truques baratos, mas lhe dá uma conclusão de cair o queixo. De longe é um filme que carrega um dos roteiros mais inteligentes já vistos. À cada vez que assistimos, vamos descobrindo novos detalhes que nos passaram em branco nas vezes anteriores. Excelente.




 A FELICIDADE NÃO SE COMPRA (1946)

Em uma cidadezinha dos Estados Unidos durante os dias que antecedem o natal, um homem correto e admirado por muitos se vê encrencado por causa de um dinheiro que lhe foi tomado. O dinheiro não era dele, por isso ele se vê em aflição. Desesperado, pensa em se jogar de uma ponte, mas um anjo aparece naquele momento e mostra como seria aquela cidade se ele não existisse. O diretor Frank Capra ganhou três Oscars de direção por Aconteceu Naquela Noite (1934), O Galante Mrs Deeds (1936) e Do Mundo Nada se Leva (1938),  todos eles são ótimos filmes. Mas sua obra-prima é mesmo A Felicidade Não se Compra, um dos melhores e mais emocionantes filmes já feitos. O cinema de Capra é conhecido pelo otimismo, onde um homem bom sempre luta contra os ricos e opressores. Em A Felicidade Não se Compra ele explora ao máximo esse tema, onde brilha o ótimo ator James Stewart (parceiro de Capra em outros filmes) que tem uma brilhante atuação. Começa com o herói em sua infância, onde em uma das cenas, uma menina (sua futura esposa) se aproxima do ouvido surdo dele e diz: “Eu te amarei para sempre!”, essa é uma de minhas cenas favoritas do cinema. Um filme belíssimo, repleto de momentos antológicos.




 APOCALYPSE NOW (1979)

Nos anos 70, o diretor Francis Ford Coppola reinou em Hollywood com nada menos que quatro obras-primas: O Poderoso Chefão (1972), O Poderoso Chefão – Parte II (1974), A Conversação (1974) e Apocalypse Now (1979). Este último é o meu preferido, é aquele que apresenta toda a megalomania típico de Coppola, seus arroubos visuais e técnicos. Apocalypse now é um filme de guerra como nenhum outro. Trata-se de um verdadeiro pesadelo nas selvas perigosas do Vietnã durante a guerra travada pelos norte-americanos nesse país. Coppola leva um grupo de soldados a viverem os maiores horrores em um barco rumo a uma área desconhecida onde um ex-coronel do exército americano (Marlon Brando, simplesmente genial) se rebelou e agora lidera uma aldeia de vietcongues fanáticos. À medida que os soldados vão seguindo pela selva, vão encontrando todos os tipos de situações, das mais inusitadas possíveis. Em certo momento, eles chegam em uma área onde está sendo travado um combate, ali, os soldados mais se parecem com mortos-vivos, atirando não se sabe em quem ou em que. Ao chegarem ao destino planejado, se encontram com o coronel que os recebe cordialmente. Mas aquele homem que enlouquecera naquele ambiente selvagem, precisa ser detido. Apocalypse Now tem um estilo bem diferente de outros filmes de guerra, aqui o que importa não á a guerra em si, mas sim mostrar a loucura de homens lutando contra inimigos invisíveis em um lugar onde impera o medo e a carnificina. Vencedor de dois Oscars. Vagamente inspirado no livro O Coração das Trevas de Joseph Conrad.




 LAWRENCE DA ARÁBIA (1962)

A História real de Thomas Edward Lawrence (autor de Os Sete Pilares da Sabedoria), que de simples observador e relator na guerra entre árabes e turcos na Primeira Guerra Mundial, acabou entrando em combate a favor dos árabes e se destacou pela sua coragem e determinação. Obra-prima de David Lean, um dos maiores diretores do cinema que fez filmes como Desencanto (1945), Oliver Twist (1948), A Ponte do rio Kwai (1957, aqui vencendo seu primeiro Oscar de direção) e Doutor Jivago (1965), entre outros. Contando com um excelente elenco que inclui Peter O’Toole no papel principal, e ainda Omar Sharif, Alec Guiness e Anthony Quinn, este é um filme que ficou marcado na história do cinema por ter as mais belas imagens do deserto já feito. Com uma fotografia deslumbrante, Lawrence da Arábia reina no quesito técnico como nenhum outro. É uma superprodução excepcional, contando a história de um homem que luta por um povo do qual ele não faz parte. Mas aqui Lean não deixa seu personagem cair no estereótipo do herói exemplar, mas o mostra de forma humana, que em alguns momentos se mostra um homem vaidoso e sedento por sangue inimigo. É uma biografia esplendorosa como poucas vezes foi mostrada no cinema. Um verdadeiro espetáculo, ganhador de sete Oscars, entre eles de melhor filme e o segundo de direção para David Lean. 




domingo, 21 de novembro de 2010

Drácula



Em 1897, o autor irlandês Bram Stoker criaria sua obra-prima que imortalizaria o mito do vampiro, trata-se de Drácula, um romance escrito em forma de cartas que narra uma história de terror com um diferencial das demais: não há propriamente um personagem principal, qualquer personagem é relevante mas alguns também podem ser irrelevantes à medida que os acontecimentos vão se sucedendo. Obviamente destaca-se a figura do Conde Drácula da Transilvania, que certo dia recebe a visita de Jonathan Harker, que vai lhe vender uma propriedade na Inglaterra. Ao chegar à mansão de Drácula, o visitante se vê preso a situações nada convencionais. Harker em meio a fatos assustadores, percebe então que é um prisioneiro, e que seu cliente na verdade é uma criatura das trevas, um vampiro que se alimenta de sangue humano. Drácula vai para a Inglaterra em busca de novas vítimas. Durante o percurso num navio, ele vai espalhando medo e terror. Harker foge do castelo e consegue depois de muito sacrifício chegar em sua cidade, onde já se conhece os primeiros atos macabros do terrível Drácula. Este mata uma amiga da noiva de Harker. A moça se torna uma morta-viva e começa a ter um terrível prazer em matar. A próxima vítima é Mina, a noiva de Harker. Drácula a leva para seu castelo na Transilvânia, fazendo com que Harker se reúna ao Dr. Van Helsing e alguns amigos e partam em busca de Mina e consequentemente acabarem com o terrível ser.
Ao contrário do que se pensa, Bram Stoker não foi o criador da lenda dos vampiros. O mito já existia, era dessas histórias que passavam de mãos em mãos, onde havia em tempos bem antigos alguém bastante cruel que se assemelhava ao personagem de Stoker, claro que não era um morto-vivo sugador de sangue como na obra literária.
Com o passar dos tempos, novos livros sobre vampiros foram lançados, como por exemplo Entrevista com o Vampiro de Anne Rice. Adaptações para o cinema é que não faltam. O genial diretor alemão F.W. Murnau fez aquela que se tornaria o melhor filme sobre Drácula: Nosferatu (1922). Em 1931 tivemos Drácula, dirigido por Tod Browning e estrelado pelo lendário ator Bela Lugosi. Seguiram-se várias adaptações e variações da mesma história, até que em 1992 o diretor Francis Ford Coppola se gabava de ter feito o filme definitivo sobre Drácula, sendo bastante fiel à obra original: Drácula de Bram Stoker. Apesar do filme ser bem interessante, é importante frisar que a obra de Coppola não é tão fiel assim à história criada por Stoker. Um dos maiores diferenciais do filme com a obra é o fato do vampiro no filme ser uma espécie de cavalheiro sedutor ao chegar à Inglaterra, quando no livro ele é nada menos que um ser aterrorizante. No filme, Mina é seduzida por Drácula e se deixa levar por uma paixão pela criatura. No livro, Mina é feita refém pelo monstro, vivendo uma espécie de hipnose; nos momentos de lucidez ela demonstra ter repulsa pela criatura. Histórias em quadrinhos, RPGs, games, canções e diversas outras mídias já exploraram o mito de Drácula.
Drácula é até hoje bastante lido e estudado, e ainda provoca bastantes sustos, Entrando  pra história como uma das obras mais assustadoras já feitas.  

O trecho abaixo é do primeiro capítulo do livro, logo nas primeiras páginas, quando Jonathan Harker recebe uma carta de Drácula, que o faz crer ser este alguém bastante receptivo e "normal":

Meu amigo: Seja bem-vindo aos Montes Cárpatos. Espero-o com ansiedade. Desejo que passe uma boa noite e amanhã, às três horas, tome a diligência que se destina a Bucovina, e na qual já está reservado um lugar para o senhor. No Passo de Borgo, minha carruagem o estará esperando e o conduzirá até mim. Espero que sua viagem de Londres até agora tenha sido boa e estou certo de que será agradável sua estada em meu belo país. Seu amigo,
DRÁCULA.


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita



O cinema político é quase tão antigo quanto o próprio cinema. D. W. Griffith em O Nascimento de uma Nação (1915) e Intolerância (1916) mostrava os dissabores de uma sociedade presa em impasses sociais, povos sendo reprimidos pelo poder em suas mais diversas formas. Em 1925, Sergei Eisenstein cria aquela que é talvez a maior obra política do cinema: O Encouraçado Potemkin, no qual ele narra os episódios reais que deram origem à Revolução Russa, onde carne podre servida aos marinheiros é o motivo para um motim que tomaria dimensões estrondosas em todo o país, culminando na execução de vários militantes nas escadarias de Odessa (essa cena é até hoje considerada um primor de montagem). Muitos desses filmes ficaram proibidos durante muitos anos aqui no Brasil e outros países, devido à censura. Até hoje pode ser visto como filmes que mexem em casa de abelha, incomodando muita gente, porque são obras que fazem pensar, levam à reflexão e abrem os olhos para uma direção muitas vezes não conhecida.
A Itália nos anos 70 produziu algumas das maiores obras do cinema político, onde talvez a mais importante seja Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita. Nessa obra dirigida por Elio Petri, vemos um inspetor de polícia (Gian Maria Volonté) que assassina sua amante (Florinda Bolkan) sem nenhum motivo aparente. Após o crime, ele não retira as impressões digitais do local, e faz questão de tocar em garrafas e copos no intuito de deixar registrado sua presença ali. Ele deixa tudo “mastigado” para que a polícia saiba que foi ele o autor do crime. Mas, como se trata de um homem com um cargo muito influente, ele está acima de qualquer suspeita, ou melhor, ele está num patamar onde ninguém ousa denunciá-lo. Em dado momento ele chega na sala de seu superior e diz que conhecia a vítima; seu chefe faz alguns gracejos na intenção de dizer: “Não sei do que você está falando, voltemos ao trabalho!”. Peritos criminais passam por cima de provas plantadas pelo próprio inspetor, e fazem de conta que o suspeito não está ali na frente de todos. Entre represálias contra estudantes manifestantes, um jovem é preso, “suspeito” do crime, o que causa uma raiva muito grande no inspetor que só quer que a justiça trabalhe de forma exemplar e chegue até ele. Mas todo mundo faz vista grossa, com receio de se dar mal e/ou perder o emprego. Todo o departamento trabalha “incessantemente” a fim de prender o assassino, mas muitos ali sabem que o verdadeiro autor do crime não pode ser tocado. O que fazer então?
O diretor Elio Petri faz aqui uma crítica ao autoritarismo disfarçado e ao mesmo tempo um alerta contra a censura. O personagem principal age de forma altamente questionável, manipuladora, exercendo seu poder sobre a grande massa submissa a ele. Tudo pra ele é um jogo no qual sabe que não tem a perder. No início ele ri de tudo aquilo, se diverte em ver que tudo saíra como planejado; mas aos poucos vai mudando de pensamento, percebendo que a lei não está funcionando. Essa mesma lei que ele tanto se esforçou pra funcionar de forma ágil e severa está falhando com ele por se tratar de algo até então inédito. Vemos então aqui uma metáfora sobre o poder de manipulação, onde governos e autoridades em muitos casos usam suas influências pra passar por cima de fatos claramente óbvios aos olhos de todos.
No final dos anos 60 até os anos 70, o cinema viu a necessidade de criar filmes-denúncias, mostrar os absurdos de um sistema desigual que imperava em várias partes do mundo. Em 1969, Costa-Gravas com sua obra-prima Z, nos mostra um político sendo assassinado na frente de uma multidão de pessoas. O Estado quer fazer crer que foi um acidente e ignora todas as provas. Cabe a um promotor honesto ir contra tudo e todos e tentar desmascarar uma teia de corrupção que alcança elevados níveis de hierarquia.
Em 1971, Elio Petri faria (novamente com o ator Volonté) o polêmico A Classe Operária Vai ao Paraíso, em que um operário exemplar de uma indústria perde um dedo em uma máquina de trabalho e depois disso se dá conta de como funcionam os movimentos sindicais. Outra denúncia sobre a sociedade e seus impasses ideológicos, sempre fugindo de algo e ao mesmo tempo em busca de alguma coisa.
A brasileira Florinda Bolkan tem em Um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita, seu grande momento de estrelato, mas é sem dúvida Gian Maria Volonté quem brilha, no papel do inspetor. Volonté é o ator que melhor expressou o cinema político da Itália, ele está ótimo também em outro filme-denúncia: Giordano Bruno (1973). Em A Moça com a Valise (1961) de Valério Zurlini, Volonté aparece em uma ponta no papel de um ex-namorado da personagem interpretada por Claudia Cardinale. Porém, Ele é mais lembrado pelo grande público por ter feito o vilão nos dois primeiros filmes da famosa trilogia de western spaghetti feito por por Sergio Leone: Por um Punhado de Dólares e Por uns Dólares a Mais.
O final é um grito de desespero, onde ecoa a agonia de um homem disposto a fazer justiça por um crime que ele mesmo cometeu. Assim nos perguntamos: a "Lei", que procura ser tão severa com o cidadão, funciona quando é exercida sobre ela mesma?
Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro e concorreu ao prêmio de roteiro original. Em Cannes, venceu o Grande Prêmio do Júri. Imperdível para os admiradores de um cinema crítico e inteligente.


Nota: 5 de 5

Título original: Indagine su un cittadino al di sopra di ogni sospetto

Lançamento: 1970 (Itália)

Direção: Elio Petri

Elenco: Gian Maria Volontè, Florinda Bolkan, Gianni Santuccio, Orazio Orlando, Sergio Tramonti

Duração: 112 minutos

Policial/Drama


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Preconceito - Pense bem antes de falar o que não deve

Essa semana, uma estudante de Direito e estagiária em um escritório de advocacia teve sua vida arruinada em questão de segundos e por causa de 140 palavras aproximadamente que ela escreveu em seu Twitter. A estudante de iniciais M. P. (não estou aqui pra incitar o ódio contra essa pessoa, por isso não colocarei seu nome completo aqui) foi super infeliz quando resolveu postar em seu microblog a seguinte frase: Faça um favor a Sp, mate um nordestino afogado”. Em pouquíssimo tempo isso se espalhou pela NET, causando uma tremenda dor de cabeça pra essa estudante. Acusada de racismo, ou xenofobia (aversão por outros povos), M. P. vai ser processada por racismo pelo Ministério Público. Isso se deve pelo fato de milhares de pessoas terem se manifestado contra a atitude da estudante. Foi uma avalanche de comentários contra esse ato bárbaro vindo de alguém que poderia estar lutando pelos direitos humanos. A vida de M. P. nunca mais será a mesma depois disso. Na NET, se elevam ao sucesso em questão de minutos, mas a mesma NET também pode ser um instrumento de autodestruição, onde quem resolve falar besteiras se dá muito mal. Um ditado popular diz: “Em boca fechada não entra mosquito”, ou seja, se você não quer ser incomodado pelo fato de não conseguir deixar sua boca fechada quando deveria, as conseqüências virão. Não é de hoje que pessoas se dão mal por abrirem a boca pra falar o que não deve; vez ou outra, na TV vemos muitas gafes que podem vir a comprometer quem as disse. No final de 2009, um jornalista famoso criticou humilhadamente dois garis depois de uma reportagem no qual eles desejavam feliz ano novo. Pra infelicidade do jornalista, ele fez um comentário preconceituoso acreditando que o microfone estava desligado. Coisas desse tipo já aconteceram com outros jornalistas e apresentadores de TV. Isso só nos faz crer que muitos deles que parecem ser tão corretos na frente das câmeras, na realidade prega a intolerância. E se há algo condenável no meio social é a intolerância, principalmente contra o próximo. Ideologias nazistas e fascistas são hoje em dia mais do que em qualquer outra época, espalhadas à exaustão. Algumas comunidades no Orkut como “Mate um negro e ganhe um prêmio", e “Jesus deveria ter apanhado mais” só mostram quão questionáveis são alguns seres humanos que habitam esta terra. Tais idéias são perigosíssimas, pois leva ao ódio, e esse mesmo ódio espalha separação entre raças, nos remetendo a pensamentos de líderes com espírito de destruição como Adolf Hitler e Benito Mussolini, entre outros. Alguém certa vez me disse: “Quem fala pouco, ouve mais”, essa frase me faz lembrar um velho provérbio chinês: "O sábio não diz o que sabe e o tolo não sabe o que diz". Na falta de algo de bom pra falar, escute. A estudante M. P deve estar nesse momento apenas escutando, e o som das palavras da população contra ela nesse momento não é nada bom para os ouvidos.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A Casa de Pequenos Cubinhos





Já assisti filmes longos com mais de três horas de duração, que ao final não há nada que acrescente coisa alguma, filmes vazios que se tornam um tédio, não havendo absolutamente nada que os tornem memoráveis. Eis que é uma grata surpresa que um curta-metragem de apenas 12 minutos consiga transmitir uma gama de emoções e reflexões que não vemos em muitos longas-metragens por aí. Me refiro à pequena animação japonesa com o título internacional em francês: La maison en petits cubes, ou traduzindo seria: A Casa de Pequenos Cubinhos.
Vencedor do Oscar de melhor curta-metragem, é de fato merecedor de prêmios e de reconhecimento essa pequena obra-prima dirigida em 2008 por Kunio Katō. É um trabalho artesanal muitíssimo bem feito, que conta a história de um homem bem velho que mora numa cidade submersa pela água. Um dia ele acorda e percebe que precisa construir um novo cubo acima, pois a água já alcançara a parte que ele estava morando. Terminada a construção, ele perde seu cachimbo. Com roupa de mergulho ele vai procurá-lo, é quando vem em sua mente as recordações do passado. A cada nível que ele vai descendo, as memórias lhe vem à tona. Sua esposa, filha e genro aparecem em forma de velhas lembranças à medida que ele vai passando pelas partes submersas ou vai revendo velhos objetos. Onde antes ele vivera seus bons momentos ao lado das pessoas que amava, hoje ficou submerso em água, perdido para sempre.
A Casa de Pequenos Cubinhos é uma história magnífica, exalando poesia em cada cena, ao som de uma belíssima trilha sonora. Pode ser vista como uma metáfora da vida, do tempo, do amor e da solidão. A triste trajetória de um homem que teve uma linda história de vivências e relacionamentos familiares que não voltam mais.
Podemos ver refletido naquele homem a nossa própria história. Quem nunca teve lembranças de coisas boas que ficaram para trás?
Belo e tocante, A Casa de Pequenos Cubinhos é uma comovente lição de vida para adultos e crianças. São poucos minutos que tem muito a dizer. 


Clique aqui e assista a esse curta-metragem na íntegra.
 

Nota: 5 de 5

Título original: Tsumiki no ie

Lançamento: 2008 (Japão)

Direção: Kunio Katō

Duração: 12 minutos

Animação