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terça-feira, 15 de junho de 2010

Sem Novidade no Front



De todos os mais de 80 filmes vencedores do Oscar principal, esse é um dos mais fortes e inesquecíveis. Uma obra-prima, considerada por muitos como um dos dez melhores filmes de guerra da história e o melhor filme anti-guerra de todos os tempos. O ponto de partida já é por si só bastante curioso: tudo é visto através da ótica de soldados alemães.
Durante a Primeira Guerra Mundial, na Alemanha, sete alunos em um colégio se deixam levar por discursos patrióticos de um velho professor e se alistam pra lutarem na guerra e assim servirem a seu país. Em campo de batalha eles descobrem tardiamente que tudo isso foi um grande engano, passando pelos maiores temores e vivendo situações aterrorizantes, convivendo com o inimigo à espreita, fome, doenças, mortes e a sensação de que tudo poderia ter sido diferente se eles não tivessem se deixados enganar pelas palavras nacionalistas daquele professor. Descobrem que a prática é diferente da teoria, e percebem que, com todo aquele horror, alguns sentimentos podem se transformar em desespero, raiva e até individualismo, como um dos soldados que ao ver o amigo com as pernas amputadas lhe pede suas botas, sem ao menos pensar no sofrimento daquele. Dos sete soldados, vemos um a um sendo dizimados, a guerra não lhes reserva vitória nem esperança de voltarem pra casa, tudo o que lhes restam é a morte. Como em Nascido para Matar de Stanley Kubrick, onde soldados já vivem momentos de aflição em pleno treinamento, aqui, os soldados se vêem sob as ordens de um velho carteiro que se tornou oficial e faz de tudo para humilhá-los e sobrecarregá-los. Jogados em uma missão, eles vão parar em um pelotão comandado por um cozinheiro que tenta em vão lhes ensinar as técnicas de sobrevivência. No primeiro ato de luta, já sabemos que escapar daquilo tudo é uma tarefa bastante difícil. O diretor Lewis Milestone, vindo do cinema mudo, demonstra uma técnica invejável numa época em que o cinema ainda engatilhava. Milestone utiliza uma fotografia suja, com traços às vezes expressionistas pra demonstrar todo aquele horror. Numa cena, vemos um soldado usando o par de botas que citei mais acima. Esse soldado logo é morto e depois outro soldado usa aquelas botas, mas em seguida também não fica vivo pra desfrutar delas. Aí vimos que tudo se equipara a um pesadelo, onde tudo é incerto, menos a morte. Não só as seqüências de guerra são mostradas de forma crua e brilhante, mas também os momentos de descontração e loucura dos soldados. Tudo é tão verdadeiro que às vezes se confunde com um documentário. Engana-se quem achar que Sem Novidade no Front por ser um filme de oitenta anos atrás não contém cenas brutais, pois isso é o que mais vemos aqui. O filme se concentra principalmente na figura do soldado Paul Bäumer (interpretado por Lew Ayres). Ele não é nem covarde nem metido a corajoso, mas igual a maioria de tantos milhões de combatentes. Aliás, é esse personagem que faz esse filme exalar mais veracidade, pois ele sofre, ri, reflete e anseia, ele simplesmente nos mostra como um ser humano pode mudar quando se encontra em uma situação de desespero e dor. Numa cena, Paul fere um inimigo em uma vala e ali ficam apenas eles dois; aos poucos ele começa a sentir remorso pelo que fez e tenta salvar a vida do oponente. Ao ver que aquele homem morreu, Paul promete ajudar sua esposa e filho. Mas depois o comandante lhe diz que a guerra é assim mesmo: ou mata ou morre e tudo é esquecido. Ou seja, não há espaço pra piedade em meio a tanto tormento.
Há muitos momentos marcantes fora os já citados, como a visita de três soldados em uma vila onde moram três mulheres famintas de fome; o hospital de freiras onde parece impossível algum paciente sair vivo ou sem seqüelas dali; o reencontro de Paul e sua mãe.
Pouco antes do final, Paul volta ao colégio onde tudo se iniciara. Ali, a pedido do mesmo professor, ele fala àqueles alunos, mas ao contrário do que o velho homem aguardava, Paul o surpreende e despeja ali um discurso corajoso e inesperado, onde entre outras coisas diz: “É sujo e doloroso morrer pelo seu país. Quando vier a morrer por seu país é melhor morrer por nada”!
O final triste nos faz refletir sobre a inutilidade de todas as guerras. Ótimos filmes como O Franco-Atirador de Michael Cimino e Nascido em 4 de Julho de Oliver Stone são outros exemplos de jovens iludidos por um patriotismo exacerbado que no fim só leva à auto-destruição.
Sem Novidade no Front foi o terceiro filme da história a vencer o Oscar de melhor filme. Lewis Milestone também venceu como melhor diretor. Ficou anos proibido na Alemanha nazista e na França, sendo liberado sua exibição muitos anos depois.
Um filme indiscutivelmente importante tanto para cinéfilos quanto para aqueles que se interessam por uma história onde a verdade por mais dolorosa que seja, é jogada na cara e atinge como um soco forte no estômago.


Nota: 5 de 5

Ttitulo original: All Quiet on the Western Front

Lançamento: 1930 (EUA)

Direção: Lewis Milestone

Atores: Lew Ayres, Louis Wolheim, John Wray, Ben Alexander e Arnold Lucy

Duração: 131 min

Gênero: Guerra



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