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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Três pequenas reflexões

Esposa: – Querido, olha só que coisa...
Marido: – o que?
Esposa: – As roupas do varal na casa da vizinha. Olha só, estão todas sujas.
Marido: – Hum.
Esposa: –  Vamos ensiná-la a lavar aquelas roupas direito. Leva lá pra ela esse sabão em pó.

No outro dia:

Esposa: – Olha lá, hoje as roupas da vizinha estão todas limpas. Vejo que você levou o sabão pra ela, e ela as esfregou direito.
Marido: – Não querida, eu usei o sabão para limpar a vidraça da nossa janela.


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Fazia tempo que não chovia em uma pequena cidade. Alguém então sugeriu que todos fossem à igreja orar, pedindo chuva. Então todos foram. Quando estão lá dentro da igreja, demora um pouco e começa a chover bem forte, sem parar. De repente uma menina (a única pessoa a levar um guarda-chuva), sai dali e deixa aquelas pessoas esperando por muito tempo a chuva passar. A menina foi a única a crer de verdade no poder da oração.


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Um famoso advogado leva seu cachorrinho á feira. Ele pára em uma barraca e começa a escolher algumas frutas, mas não repara que seu cachorrinho está comendo algumas maçãs estragadas em um caixote que está no chão. O dono da barraca olhando aquilo, se aproxima do advogado e lhe diz:
- Senhor, sei que és um advogado muito famoso, e sendo assim quero me consultar com o senhor.
O advogado diz:
Pois não, em que posso servi-lo?
O homem: - Se um animal de uma pessoa come a mercadoria que não é dele, o que a pessoa prejudicada deve fazer?
O advogado: - Deves cobrar ao dono do animal pela mercadoria consumida.
O homem: - Então doutor, o senhor me deve 5 reais, por seu cachorro ter comido minhas maçãs.
O advogado: - E o senhor me deve 50 reais pela consulta.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Diretores e seu melhor filme - Primeira parte



 Fiz uma lista de cada diretor e seu melhor filme, não segundo o gosto popular e da crítica (ainda que em alguns casos haja semelhanças), mas seguindo meu gosto pessoal.

Alfred Hitchcock
Psicose (1960)
Uma das muitas obras-primas de Hitchcock, Psicose é tido por muitos como o maior suspense já realizado. A cena do chuveiro foi depois muito imitada, e o psicopata Norman Bates entrou para a história.

Pedro Almodóvar
Fale Com Ela (2002)
Um dos melhores filmes da década passada, fale Com Ela mistura sentimentos, relações e perda, em uma história inusitada e poética. Oscar de Roteiro Original.

Woody Allen
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)
Filme que consagrou a genialidade de Allen. Um romance original numa mistura de comédia e drama. Vencedor de 4 Oscars.

Stanley Kubrick
O Iluminado (1980)
Os melhores filmes de terror são aqueles onde tudo é mais sugerido do que mostrado. E Kubrick sabia disso quando colocou um Jack Nicholson enlouquecido em um enorme hotel.

Akira Kurosawa
Rashomon (1950)
O maior diretor japonês da história do cinema nos mostra um crime pelo ponto de vista de 3 pessoas. Um dos melhores filmes da Sétima Arte. Oscar de Filme Estrangeiro.

Steven Spielberg
A Lista de Schindler (1993)
O Holocausto nunca mais seria o mesmo depois que Spielberg transpôs para as telas a trajetória de Oskar Schindler para salvar a vida de vários judeus. Vencedor de 7 Oscars.

Martin Scorsese
Touro Indomável (1980)
A excelente interpretação de Robert De Niro e a genial direção de Scorsese dão o tom nesse filme sobre um lutador de boxe, suas vitórias e derrotas. Vencedor de 2 Oscars.

Quentin Tarantino
Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994)
Mafiosos, lutas de boxes desleais e um assalto que dá errado nessa obra-prima de Tarantino que revolucionou a forma de fazer cinema. Seu segundo filme. Oscar de Roteiro Original.

Jean-Luc Godard
O Demônio das Onze Horas (1965)
Um homem insatisfeito com a vida encontra em uma mulher o motivo para fugir. Porém, a busca por novas motivações terá seu preço. Considerados por muitos como o melhor filme de Godard.

Federico Fellini
Oito e Meio (1963)
Um diretor de cinema  entra em crise. Enquanto isso, lembranças de todas as mulheres que passaram em sua vida começam a torná-lo alguém diferente. Vencedor de 2 Oscars.

Ingmar Bergman
Gritos e Sussurros (1972)
Um dos filmes mais tristes que o cinema já produziu. Bergman fala aqui de dor, sofrimento e a busca pela redenção. Oscar de melhor fotografia.

Francis Ford Coppola
Apocalypse Now (1979)
A busca por um coronel que enlouqueceu em plena selva é o ponto de partida desse filme de guerra visto como um pesadelo. Marlon Brando rouba todas as cenas em que aparece. Vencedor de 2 Oscars. 

Orson Welles
Cidadão Kane (1941)
Votado por muitos como o melhor filme já feito, Cidadão Kane tem o melhor roteiro já visto na história do cinema e um final inesquecível. Excelente em todos os sentidos.. Oscar de Roteiro Original.

Charles Chaplin
Tempos Modernos (1936)
Um sátira à industrialização, Tempos Modernos é também o primeiro filme em que Chaplin introduziria o som. Um dos maiores clássicos da história.

Tim Burton
Ed Wood (1994)
Burton homenageia o cinema, contando a verdadeira história de Ed Wood, do pior diretor de todos os tempos. Em uma cena, Wood encontra Orson Welles. Vencedor de 2 Oscars.

Roman Polanski
Chinatown (1974)
Considerado uns dos melhores roteiros do cinema, Chinatown é um noir colorido, uma trama de mistério com um final antológico. Oscar de Roteiro Original.

David Lynch
O Homem Elefante (1980)
Um homem tem uma rara doença que deformou seu rosto, e tenta viver na sociedade, mas esbarra no preconceito das pessoas. Um dos filmes mais tristes do cinema.

Brian De Palma
Os Intocáveis (1987)
De Palma tem aqui seu melhor momento, levando às telas a história do incorruptível Elliot Ness em sua determinação em prender o terrível mafioso Al Capone.

Hayao Miyazaki
A Viagem de Chihiro (2002)
O mestre da animação japonesa conta a história de uma menina de 10 anos que entra em mundo fantástico e misterioso. Oscar de melhor animação.

Bernardo Bertolucci
O Conformista (1970)
Durante o Fascismo na Itália, um homem recebe uma missão, enquanto acaba se envolvendo demais com uma bela mulher. Grande trabalho de Bertolucci.

John Ford
Rastros de Ódio (1956)
O genial diretor Ford mostra um homem em busca da sobrinha seqüestrada por índios. Ao saber que ela se tornou um deles, ele pretende matá-la. Um dos melhores westerns de todos os tempos

Clint Eastwood
Os Imperdoáveis (1992)
Eastwood dirigiu este que é o melhor western em mais de 20 anos, contando a história de um homem velho que vai em busca de alguns homens que cortaram o rosto de uma prostituta. Vencedor de 4 Oscars.

François Truffaut
A Noite Americana (1973)
O próprio Truffaut interpreta o diretor que comanda uma equipe de filmagem. Uma das maiores homenagens do cinema ao próprio cinema. Oscar de melhor filme estrangeiro.

Michelangelo Antonioni
A Aventura (1960)
Uma mulher desaparecida, a busca incessante por algo que faça sentido e uma história de amor improvável. Antonioni e o início de sua trilogia da incomunicabilidade.

Billy Wilder
Quanto Mais Quente Melhor (1959)
Dois músicos se vestem de mulheres para não serem mortos, e o encontro com uma estonteante Marilyn Monroe. Uma das melhores comédias do cinema. Oscar de figurino preto-e-branco.

Walter Salles
Central do Brasil (1998)
A amizade entre uma mulher de meia idade e um garoto em uma viagem pelo interior do Brasil. Um dos filmes mais premiados do cinema nacional.


sábado, 17 de setembro de 2011

O Triunfo da Vontade



Em 1934, aconteceu na Alemanha mais um Congresso Nacional-Socialista, onde eram expostos os ideais nazistas, reunindo milhares de alemães, civis, militares e principalmente Adolf Hitler e sua cúpula. Até aí tudo normal, se não fosse por um detalhe: a diretora e ex-atriz Leni Riefenstahl, uma artista que vinha de filmes que se passavam em montanhas geladas. Insatisfeito com a falta de qualidade dos registros de seus discursos, Adolf Hitler vê em Riefenstahl, a pessoa ideal para dar pompa e magnitude aos registros de propagandas naquele ano em Nuremberg. Algo que ficasse marcado na História. E o ditador não estava errado.
Os congressos eram armas perfeitas para alienar a imensa multidão que se reunia para ver e ouvir todo aquele discurso de superioridade, promessas e façanhas. Tudo era registrado pelas lentes de Riefenstahl. Porém, o que seria apenas uma simples filmagem com Hitler, seus seguidores e soldados, se transformou em algo maior, essas filmagens confirmaram que Riefenstahl era uma cineasta genial, uma verdadeira força de talento que usava sua câmera sempre de modo magistral, gigantesco, sem nunca cair no lugar-comum. Para conseguir efeitos devastadores, Riefenstahl (com todo o aval de Hitler) mandou construir equipamentos que facilitassem sua câmera de “passear” por diversos lugares, seja horizontal ou verticalmente, sem que houvesse obstáculo algum. E o que se vê demonstra que as técnicas utilizadas por Riefenstahl revolucionaram o processo cinematográfico. Uma triste ironia, sendo que eram nesses congressos que se reafirmava o domínio de idéias insanas que culminaram com o que hoje todos nós conhecemos: massacres, extermínios em massa, sofrimentos e barbáries. Mas não se pode analisar uma obra apenas pelo ponto de vista técnico, deixando de lado o que tal obra se propõe a dizer. 


As técnicas utilizadas por Riefenstahl captavam todo aquele “espetáculo”, de forma a que tudo parecesse épico. Começa com Hitler chegando de avião a cidade de Nuremberg (cidade onde exatamente anos depois foram julgados os líderes nazistas), depois o ditador dá uma volta pela cidade, onde são mostrados os moradores acenando e glorificando-o. Não é poupado cenas de soldados em demonstrações de fidelidade ao Fuhrer. Aliás, não apenas os soldados lhes juravam fidelidade, mas também as filiações e partido, onde não cansavam de dizer: “A Alemanha é Hitler, Hitler é a Alemanha”. Tudo parecia encenado, ao som de músicas clássicas, bandeiras, símbolos nazistas, aviões, etc. As cenas de milhares de soldados marchando é no mínimo impressionante, e até mesmo aterrorizante, quando sabemos que a real intenção daquele exército era de exterminar milhões de pessoas que não se "encaixavam" nos modelos arianos apresentados por Hitler.
É espantoso ver que milhões de pessoas se deixavam levar pelos terríveis discursos de seu “mentor”. Onde Hitler ia, adultos e crianças faziam questão de estarem por perto, cumprimentar o tirano. Olhavam-no com tanta admiração que nos faz pensar que houve uma lavagem cerebral coletiva naquele povo, porque de outro modo não dá para entender o motivo que fazia com que Hitler, um homem de aparência patética, até mesmo risível, com um bigode quadrado, uma figura chapliniana (o próprio Charles Chaplin o imitou de forma brilhante em O Grande Ditador) pudesse inflamar tanta admiração de um povo que se recuperava da perda na Segunda Guerra. No entanto, era isso mesmo que Hitler sabia usar muito bem: causar naquele povo o espírito de uma nação derrotada que deveria se reerguer, marchar e lutar pela vitória. 


Se Hitler era ridículo em sua aparência, sabia usar de sua incrível oratória para levar toda uma nação ao caos, fazendo acreditar em histórias de superioridades de raças e outros delírios incríveis que pareciam tirados da mitologia grega. Riefenstahl sabia disso muito bem, e utilizou esses discursos eloqüentes para dar asas à sua imaginação e focar no que aquele congresso e aquela cidade tinham a oferecer: um belo panorama, um“estúdio” ou “laboratório”, onde tudo é muito gigantesco, e que em alguns momentos nos faz lembrar filmes épicos no estilo Ben-Hur e Lawrence da Arábia. Nunca se viu tantas pessoas reunidas em um só lugar, um verdadeiro espetáculo onde milhares de soldados, moradores da cidade e a alta cúpula nazista (Josef Goebbels, Hermann Göring, Rudolf Hess, entre muitos outros aliados), com seus sorrisos, aplausos e proclamações de fidelidade ao tirano, deixavam crer que eles realmente acreditavam em tudo aquilo.
Riefenstahl usava um truque genial e até então pouco utilizado no cinema: a câmera ao filmar os discursos de Hitler e seus seguidores, era colocada mais baixa, fazendo com que eles parecessem grandes, imponentes, um recurso que Orson Welles utilizaria em Cidadão Kane (repare na cena do discurso); o diretor japonês Yasujiro Ozu também gostava de filmar com a câmera mais baixa.
Os discursos inflamados pareciam bem melhores sob as lentes de Riefenstahl. Até mesmo bobagens panfletárias ditas por Hitler como: “Não é o Estado que nos criou, mas nós é que criamos o Estado”, parece soar de maneira triunfante. 

Afinal de contas, o que é O Triunfo da Vontade? Para muitos, a maior propaganda de guerra já realizada; há quem ache que seja um jogo de alienação. Mas serve também como uma análise: o cinema também pode ser uma arma quando cai em mãos erradas?
Sim, é bem provável, uma vez que Hitler e sua cúpula utilizaram da Sétima Arte como veículo pra vários filmes onde se exaltava o patriotismo. Esses filmes mostravam jovens se alistando no intuito de morrerem se fosse preciso, tudo pela causa nazista, tudo em nome de Hitler. Geralmente eram filmagens amadoras feitas pela Juventude Hitlerista. Riefenstahl apareceu para revolucionar a maneira de se fazer cinema-propaganda (é dela também o famoso documentário Olympia). Infelizmente ela estava do lado errado e pagou por isso. Depois da Segunda Guerra, Riefenstah foi acusada de usar prisioneiros em seus filmes. Só foi condenada a 4 anos de prisão, mas devido ao seu envolvimento em projetos nazistas (ela sempre negou ser afiliada de tal partido), foi boicotada e nunca mais conseguiu financiamento para seus filmes. Acabou trabalhando com fotografia submarina.
Analisando O Triunfo da Vontade como técnica revolucionária e esquecendo um pouco que se trata de um poderoso discurso de propaganda de guerra, notamos que se trata de uma aula de cinema. Porém, se não dá para esquecer as arbitrariedades proclamadas por Hitler, ao menos podemos ver que por trás daqueles discursos inflamados em Nuremberg se escondia uma das maiores cineastas da história. 


Leni Riefenstahl (centro)






Nota: 5 de 5

Título original: Triumph des Willens



Lançamento: 1935 (Alemanha)

Direção: Leni Riefenstahl



Elenco: Adolf Hitler, Josef Goebbels, Hermann Göring, Rudolf Hess, etc.
 
Duração: 114 minutos



Documentário

domingo, 7 de agosto de 2011

Orientação e direção

Há algum tempo, um amigo me disse o seguinte:

“Tomei um banho, me arrumei, peguei a carteira, depois peguei um ônibus em direção ao centro da cidade. Ao chegar lá, desci do ônibus. Olhei pra um lado, olhei pro outro, tentava me lembrar o que fui fazer ali. Não conseguindo me lembrar, peguei o ônibus de volta e voltei pra casa”.

Parece loucura? Não é. Isso é conseqüência do modo de vida atual em que vivemos. Se no século 20 já era complicado levar uma vida mais tranqüila, o que dizer do século 21, com toda essa globalização, telefones celulares, internet e economia sobe-e-desce?
Certa vez eu estava em um ponto de ônibus, quando vi um homem passar na rua resmungando e gritando. Ele falava ao celular. Um senhor que estava perto de mim, disse:

“Sinto falta do tempo em que, quando alguém falava gritando nas ruas era maluco!”.

O mundo anda de um jeito tão “desorientado” hoje em dia, que fica difícil taxar alguém ou algo de esquisito ou anormal, tamanho o desenvolvimento e aceleração das situações em que vivemos nesse novo século.
Hoje, notei algo na TV que me soou ainda mais banal do que ela já é: alguns programas de TV exibindo melhores vídeos da internet. Mas o público, decidido a dar um pouco de descanso da NET, já não liga a TV em busca de algo diferente? Se bem que, nem todo mundo tem internet em casa. Mas convenhamos, é algo totalmente descartável em vista de inúmeras possibilidades de coisas boas e interessantes que a TV poderia estar mostrando.  Mas é aquela velha questão: O público é refém da TV, aceitando tudo que a mesma oferece. Mas, vídeos da NET é uma maravilha, se olharmos mais a fundo o que passa no restante do tempo. A política do Pão e Circo hoje pode ser aplicada de forma mais ampla na TV. Tudo isso desorienta, forma pessoas que não têm decisão formada, causa um verdadeiro redemoinho de incertezas. 
Mas se a TV aliena o grande público, não é somente ela que domina as massas, ela subverte valores e opiniões, entretanto a ação mais centralizadora da inquietação mundial é a globalização, ou seja, o processo é geral, o planeta Terra em sua rotação e translação segue seu curso e volta para o mesmo lugar. Estou querendo dizer que andamos em círculo, sem uma direção definida? A resposta é sim e não. Sim, porque no mundo não existe apenas pessoas boas, preocupadas não apenas consigo mesmas, mas aptas a colaborarem para uma vida melhor em conjunto, lutando pela igualdade e justiça. Infelizmente, como em um filme, convivemos com “vilões” que querem acabar com o próximo, seja esse vilão um criminoso que rouba, mata e destrói, seja ele alguém desleal que puxa o tapete e não quer ver ninguém ter sucesso na vida, ou seja ele um hipócrita, ambicioso e desiludido que só que ver a ele mesmo. E não, porque felizmente muitos de nós fazemos a nossa parte. Não podemos mudar o mundo como desejaríamos, mas podemos lutar para que tudo não se afunde e se perca. 
Inquietação, desilusão e falta de rumo é uma constante na vida do homem, desde a criação do mundo. O que faz a diferença, o que muda tudo isso, o que faz com que para alguns seja menos doloroso do que para outros, é a força de vontade e fé de cada um. É a persistência em vencer os desafios, é estar disposto a negar o que a vida oferece de enganoso, e abraçar tudo o que representa o amor, a solidariedade, a compreensão. É formar idéias construtivas, é se alegrar com a vitória de quem está perto de você, é compartilhar os momentos bons, e estar ao lado de quem está passando por momentos de dor. É sentir o sol em seu rosto, o vento em seus cabelos, e ver que tudo aquilo lhe foi dado de presente para que você possa aproveitar o melhor que a vida tem a lhe oferecer, sem estar se preocupando com coisas banais, não estar ansioso pelo o que não lhe trará felicidade, não desejar que seu amigo tropece quando você está caído, mas desejar que ele te puxe pelas mãos e ambos possam estar levantados.
Esses últimos dias venho lendo no Facebook tantas palavras bonitas e de conforto, escritas por pessoas que acreditam em si mesmas, no próximo, e o mais importante: acreditam em Deus. Pessoas que estão de bem consigo mesmas, porque só assim conseguem estar de bem com os pais, os irmãos, os vizinhos, os amigos.

Nossa bússola principal é Deus, sem Ele não vamos a lugar algum. Guiemos-nos por Ele, e assim, consequentemente teremos a devida e sábia orientação para a solução dos nossos problemas, angústias, frustrações, dúvidas e anseios. Assim sendo, caminhemos em frente, rumo a uma direção melhor, sem nos perdermos pelo caminho.

domingo, 31 de julho de 2011

Vá e Veja




Bielorrússia, 1942, em meio a Segunda Guerra, o adolescente Florya une-se a um grupo anti-nazista, mesmo contra a vontade de sua mãe. Ao sair de casa naquele momento e se aliando àquele grupo de resistência, Florya estará saindo e vendo o que até então ele desconhecia pessoalmente. A trajetória do jovem é nada menos que brutal, a começar pelo mau tratamento do próprio exercito que ele acabara de compor. Em meio a isso, o pior estaria por vir: bombas alemãs atingem o vilarejo onde eles estão, resta a Florya fugir dali juntamente com uma moça que parece ser um caso mal explicado do líder do pelotão. O nome dela é Glasha. Mas o pesadelo de Florya estará apenas começando, quando ele descobre algo bárbaro ao voltar para casa. Ao sair em busca de alimento para o povo de seu vilarejo, ele acaba por vivenciar uma das piores atrocidades praticadas pelos nazistas: o extermínio de toda uma aldeia.
Se o enredo dessa história pareceu forte, prepare-se, você precisa vê-lo em imagens. Algumas das cenas mais impactantes do cinema estão contidas em Vá e Veja, um dos registros mais ferozes da guerra já feitos. Quase duas horas e meia de um doloroso processo de sobrevivência. Para Florya, a morte está em cada passo, em cada tiro, em cada olhar, em cada sombra, em cada palavra expressa. Ele sabe que, suas chances de sair vivo dali são mínimas. Mas ainda assim, surdo em decorrência de bombas, e aparentemente louco, ele luta com todas as forças para escapar daquele tormento.
O diretor Elem Klimov revolucionou a arte de fazer cinema, com uma narração nada menos que espetacular, onde o som tem uma importância fundamental. Mas são as chocantes imagens que dão toda a dimensão do horror vivido. Sua técnica de filmagem é impressionante, revelando um cineasta fabuloso, mas que infelizmente era (e ainda é) desconhecido pelo grande público fora de seu país. Klimov faleceu em 2003, mas deixou além de outras obras, a maior jornada fílmica de medo e dor dos últimos tempos: Vá e Veja.
Baseado em sua própria infância em meio a guerra, Klimov não poupa seu protagonista e nem o público, despejando uma sucessão de acontecimentos que mais se assemelham a um filme de terror. Aliás, é no terror que Vá e Veja mais se concentra, quando vemos o jovem Florya no início bem arrumado, e quando o vemos no final. Só sabemos que é a mesma pessoa porque o acompanhamos em sua jornada, caso contrário seria difícil dizer que o Florya do desfecho, envelhecido e cheio de marcas, é aquele mesmo jovem do início. A espantosa transformação física de Florya é o retrato de toda a guerra, os horrores do Holocausto, a luta para não morrer de forma gratuita. Dizem que o ator Alexei Kravchenko (brilhante, no papel de Florya), teria sido hipnotizado, afim de não sofrer sobrecarga emocional e danos mentais, tamanha a força das cenas.
As cenas de Vá e Veja impressionam, e muito. Só para se ter uma idéia, a jovem Glasha ao conhecer Florya, é mostrada de forma sinistra. Ela, com os olhos visivelmente vesgos, ao mirar em Florya, nos é mostrada como num filme de suspense, quando chegamos a querer que a cena mude de foco. Mas ao contrário de seu novo amigo, Glasha vai se humanizando, demonstrando mais sanidade e percepção, como no momento em que ela percebe que algo está terrivelmente errado na casa de Florya.
A loucura e o medo está presente a todo momento em Vá e Veja. O único momento de descontração de Florya é quando ele e Glasha estão na chuva, e ela dança pra ele. De resto, só vemos o horror incutido em cada cena.
E horror é o que melhor define as cenas finais quando vemos a mais chocante barbárie já mostrada nas telas, feita por soldados nazistas. São alguns minutos de pura dor e revolta, que dificilmente sairá de nossa mente. Simplesmente chocante, onde a selvageria animal dos soldados alemãos vai de estrupos a assassinatos. Ao final, um momento antológico, quando Florya atira no passado, fazendo com metaforicamente, a guerra e seu mentor Adolf Hitler sumam da existência humana. É um desfecho no mínimo genial, um grito de revolta contra o mal em sua essência mais concreta existente no século 20.
Um dos melhores filmes de guerra de todos os tempos, Vá e Veja não é uma obra recomendada apenas para cinéfilos ou estudantes de cinema, mas também para todos que buscam conhecer um dos períodos mais tristes e cruéis da história humana. Porém, nunca é demais avisar que se trata de um filme forte e brutal, onde, quem é mais sensível a imagens de forte impacto, deve de certa forma evitar em ver. Quem se aventurar em embarcar na jornada de medo e loucura de Vá e Veja, jamais irá esquecê-lo. 


Nota: 5 de 5

Título original: Idi i smotri

Lançamento: 1985 (Rússia)

Direção: Elem Klimov

Elenco: Aleksei Kravchenko, Olga Mironova, Liubomiras Lauciavicius, Vladas Bagdonas, Juris Lumiste

Duração: 142 minutos

Drama/Guerra



terça-feira, 26 de julho de 2011

Os Sofrimentos do Jovem Werther



Em 1774, surgiria na França uma obra literária que daria início ao Romantismo (movimento que teria entre seus principais idealizadores no Brasil, nomes como José de Alencar na prosa e Castro Alves na poesia). Esta obra: Os Sofrimentos do Jovem Werther, do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe. 
Werther é um jovem apaixonado por Charlotte, mas esta é comprometida com Alberto, que logo se casam. Werther, amigo de Alberto, continua nutrindo um amor escondido pela sua amada. Sabendo que, nenhuma chance lhe resta nesse amor, o jovem apaixonado vai levando a vida, até que em certa noite, ele arquiteta sua própria morte, impondo de forma direta uma dolorosa consciência de culpa em Charlotte.
Como se vê, Os Sofrimentos do Jovem Werther é uma história de amor, com altas doses de reflexão e melancolia. Mas o primeiro livro da Escola Romântica diferia das obras posteriores (sejam elas européias ou do continente americano) por alguns motivos, o principal deles era o final trágico. Enquanto que, a maioria das obras do Romantismo tinha um desfecho por vezes alegre ou de certa forma otimista, em Werther a conclusão é trágica. 

Esse texto, com suas denotações e conotações amorosas, contém em sua característica muitos elementos do Romantismo, mas a forma contextual também mistura alguns elementos do Realismo (movimento literário surgido na França no século posterior, com a publicação de Madame Bovary, de Gustave Flaubert, em 1857), ainda que em alguns casos seja menos perceptível. Em forma epistolar, Os Sofrimentos do Jovem Werther, se assemelha em forma narrativa ao francês As Relações Perigosas (há um filme maravilhoso adaptado dessa obra, com o título de Ligações Perigosas, de 1988).
As cartas que Werther escreve, são dirigidas a um editor chamado Wilhelm, responsável pela publicação das mesmas, após a morte do jovem. A narrativa de Goethe em toda a obra é rica, repleta de detalhes, de emoção e dor.

“Você não me espera mais, acreditando que eu lhe obedecerei, que só a verei na véspera de Natal! Ó Charlotte, hoje ou nunca. Na véspera de Natal, você terá em mãos este papel, estremecerá, molhará esta carta com as suas lágrimas queridas. Eu quero ... e preciso! ... Oh! como me sinto feliz por haver tomado uma resolução!”

 Goethe utilizou Werther como espelho de si mesmo, sendo que o autor também sofreu por amor, colocando-lhe um final que talvez o mesmo o desejasse, ainda que evidentemente isso não acontecesse. A obra foi um enorme sucesso na época de seu lançamento, tornando-se talvez a mais importante obra literária alemã, superando até mesmo Fausto, do mesmo autor, não em qualidade, mas em significado de valor cultural.
O que torna Os Sofrimentos do Jovem Werther mais curioso e enigmático foi o fato de que, na época de sua publicação, esta obra acabou levando várias pessoas a cometerem suicídio na Europa, criando uma verdadeira onda de desespero, fazendo com que autoridades viessem a proibir a publicação e venda desse livro. Obviamente, é bastante discutível essa ação coletiva de suicídios, mas com o passar dos anos, o público amadureceu, e a obra resistiu ao tempo, e hoje está entre as preferidas de milhões de leitores em todo o mundo.



terça-feira, 12 de julho de 2011

Lavoura Arcaica


  
 Por mais que existam defensores fervorosos do cinema nacional, é indiscutível que o nosso cinema ainda tem muito que aprender a contar histórias mais humanas sem cair em excessos ou se tornar uma obra enfadonha feita por algum diretor pseudo-intelectual. Mas devemos tirar o chapéu quando o cinema brasileiro acerta, pois quando assim o faz, faz de forma perfeita. Um pouco antes da obra-prima Cidade de Deus arrasar nos cinemas, um diretor de TV simplesmente ousou levar às telas uma obra do difícil escritor Raduan Nassar. Difícil porque Nassar é autor complexo, de linguagem revolucionária e de difícil compreensão. Suas obras não são lineares, suas histórias vão e voltam no tempo, pegando pelo rabo leitores de primeira viagem que ainda não estão acostumados a navegarem em textos mais enigmáticos e pouco elucidativos. 
Mello, o filho atormentado
Esse diretor de TV é Luiz Fernando Carvalho, e a obra em questão é Lavoura Arcaica. Carvalho trabalhava com projetos televisivos quando se encantou com o livro de Nassar e resolveu fazer dele uma obra fílmica. Para isso, ele não adaptou a obra em forma de roteiro como é comum se fazer, ele simplesmente arrancava o que era narrado no livro e o jogava nas filmagens, na intenção de ser o mais fiel possível à obra. Carvalho sabia que, com idéias tão inovadoras em mente, consequentemente teria que reunir um grupo de atores consagrados que conseguisse passar de forma magistral todo aquele drama vivido pelos personagens. Em um ensaio de atores que durou quatros meses, estava Selton Mello, que vive o atormentado André (o coração do filme), Raul Cortez (o pai), Julianda Carneiro da Cunha (a mãe), Leonardo Medeiros (o irmão Pedro), Caio Blat (o irmão Lula) e Simone Spoladore (a irmã Ana).
Em uma família de libaneses que vive no Brasil, a autoridade exercida pelo pai faz com que o jovem André saia de casa e resolva viver de forma mais livre, mas as coisas não vão bem como ele esperava, fazendo com que seu imão a pedido da mãe, vá buscá-lo de volta. Ao chegar em um sujo quarto de pensão onde seu irmão está hospedado, Pedro o vê sofrendo, vítima de bebidas e remédios. Depois de abandonar o lar, André se tornou uma pessoa doente e equizofrênica, derrubado pelas suas próprias convicções errôneas de mundo. Porém, o que mais lhe aflige é um segredo do passado, envolvendo um caso de incesto com sua irmã Ana. Ao voltar para casa, André precisa confrontar o severo pai e, ao mesmo tempo conviver com uma paixão desenfreada pela própria irmã. Evitarei entrar em maiores detalhes da história pra não atrapalhar o prazer de quem ainda não assistiu. Basta dizer que é uma história forte e amarga (ainda que feita de forma poética), envolvendo amores proibidos e a busca pela redenção.
 
Raul Cortez, o pai autoritário

Lavoura Arcaica é isso, um filme sobre uma família que se despedaça aos poucos, uma fonte de água que aos poucos vai secando. Seus personagens aparentemente vivem de forma alegre, descontraída, mas no fundo carregam frustrações, desejos reprimidos, valores distorcidos e sentimentos que extravasam.
A linguagem é diferente do que foi feito até hoje no cinema brasileiro; as frases, diálogos e narrações soam estranhos, mas nunca de forma chata ou redundante. As imagens são as mais belas e poéticas já vistas no cinema brasileiro. A narrativa retrocede e adianta no tempo, de forma às vezes brusca. Tudo isso, somado a mais de duas horas e meia de projeção. Resumindo: Não é uma obra fácil, requer paciência e compreensão dos desacostumados com um cinema mais artístico, muito longe das inúmeras bobagens que se vê nos dias de hoje no cinema nacional. Diga-se aí as comédias descartáveis e romances pedantes.
O diretor Luiz Fernando Carvalho até o momento só fez este filme para o cinema e um curta-metragem de 1986, chamado À Espera. Mas na TV, é conhecido especialmente por algumas novelas e por microsseries revolucionárias como Hoje é Dia de Maria, Capitu (baseado em Dom Casmurro, de Machado de Assis) e A Pedra do Reino. Mas o grande momento de Carvalho na TV é sem dúvida a mini-serie Os Maias (baseado no romance homônimo de Eça de Queirós), uma obra-prima que, em minha opinião foi a melhor coisa que a TV brasileira já produziu até hoje. Um trabalho fantástico que é um primor de técnica e interpretação.
O escritor Raduan Nassar tem poucas obras publicadas. É dele também o livro Um Copo de Cólera, que igualmente foi filmado (em 1999). Um filme que considero como um dos piores que já tive o desprazer em assistir. Há quem goste muito, mas eu particularmente não vi absolutamente nada que agradasse, em uma obra feia, ridícula e totalmente descartável. Nunca li a obra em que o mesmo se baseia, mas prefiro achar que tal filme tenha muito pouco de Nassar contido nele. Mas a genialidade de Nassar, que sabe falar tão bem de libaneses, porque ele próprio é filho de imigrantes vindos da Líbia, é vista de forma exemplar em Lavoura Arcaica
Selton Mello ainda não era tão querido pelo grande público quando fez Lavoura Arcaica, e nem era conhecido por seus talentos também como diretor. Aqui, ele está formidável, naquela que é uma das melhores interpretações masculinas da história do nosso cinema. Um verdadeiro Tour de Force de um ator, em um trabalho não menos que excepcional.
Simone Spoladore, a irmã conflituosa
Seu embate com o pai (Cortez, outro grande ator em cena), em especial na cena do sultão, se transforma em um duelo de interpretação. A mãe sufocadora feita de forma sensível e minimalista por Juliana Carneiro da Cunha é uma das personagens mais emotivas dos últimos tempos. Leonardo Medeiros interpreta de forma brilhante o irmão mais velho. Simone Spoladore, atriz dos palcos, estréia aqui, consagrando-se em uma das carreiras mais sólidas do cinema nacional, se destacando posteriormente em produções como Desmundo (2003) e o belo O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006).
Uma verdadeira poesia em movimento, com imagens fortes e inesquecíveis e muito lirismo, Lavoura Arcaica é um dos poucos filmes do cinema brasileiro atual que merece ser chamado de obra-prima.


Nota: 5 de 5

Título original: Lavoura Arcaica



Lançamento: 2001 (Brasil)

Direção: Luiz Fernando Carvalho



Elenco: Selton Mello, Raul Cortez, Simone Spoladore, Leonardo Medeiros, Juliana Carneiro da Cunha e Caio Blat


Duração: 163 minutos



Drama


                                    


sexta-feira, 8 de julho de 2011

Site Iguaímix - Agradecimento especial



Recebi uma linda camisa do site Iguaímix das mãos de meu amigo Ronecson, responsável pela parte administrativa e de publicidade do site. Em Iguaímix eu comento sobre cinema. É um ótimo canal de conhecimento sobre a cidade de Iguaí (Ba), e ao mesmo tempo traz notícias não só da cidade, mas estendendo a outros assuntos de fora. Uma das coisas que acho legal em participar do site, é que seus admistradores não se limitam apenas a publicarem textos sobre filmes atuais, mas também a clássicos de difícil acesso, como Uma das coisas que acho mais legal em participar do site, é que seus admistradores não se limitam apenas a publicarem textos sobre filmes atuais, mas também clássicos de difícil acesso ou de arte como 12 Homens e uma sentença, Entre os Muros da Escola, Amantes e Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita.
Iguaímix é um site que já nasceu grande, com milhares de acessos mensal, e admiradores não só da Bahia, mas também de outras regiões do Brasil.


Meus agradecimentos a toda a equipe do Iguaímix.


http://www.iguaimix.com/






domingo, 26 de junho de 2011

Agradar ou não agradar, eis a questão

Certa vez ouvi uma fábula que me fez refletir sobre o mundo e os seres humanos. Vou representar essa parábola com minhas palavras:
Havia um velho, seu pequeno filho e um jumento. Certo dia, estando os três passando por uma cidadezinha, o animal carregava a criança; alguém então chegou e disse ao velho: “Meu senhor, esse menino é jovem, sadio, deixe que ele ande, e monte o senhor nesse jumento!” o velho pensou, e depois retirou a criança de cima do jumento e a seguir montou no animal. Alguém passando por ali, disse: “Mas que coisa feia, um homem forte desse, coloca uma pobre criancinha pra caminhar, enquanto ele fica aí numa boa!”. O velho então sai do jumento e começa a andar. Logo, vem alguém e diz: “Um sol quente desses e vocês andando a pé?” O velho pensa a respeito e monta com seu filho no jumento. “Uma outra pessoa vê aquilo e exclama: “Olha só, um pobre jumentinho carregando dois folgados, isso é uma maldade com o pobre bicho”.  O velho já irritado pega o animal e começa a carregá-lo. Outro alguém passando ali diz: “Coitado do velhinho! Coloca esse jumento pra andar!”
Essa história ilustra o fato de que, é impossível agradar a todas as pessoas. Por mais que se tente fazer o que é certo, nem todos acharão isso. Se uma mulher sai demais, logo a chamam de rueira, e se é de ficar mais em casa, chamam-na de entocada. Se um homem gosta demais de futebol, é chamado de fanático, se não gosta, é chamado de esquisito. Se alguém trabalha em uma empresa, ela de algum modo vai agradar a alguns, mas desagradar a outros, mesmo que não faça esforço nenhum para ser sutil com qualquer pessoa. Se ele sorri demais, o chamam de doido, se ele não sorri, o chamam de metido, se sorri e às vezes não sorri, o chamam de falso.
Sou do tipo reservado, não sou de muita conversa com quem eu vejo que não merece tanta atenção (em geral são pessoas que de algum modo eu sei que falam mal de mim quando não estou perto). Em minha rua, conheço poucos vizinhos, não porque eu tenho a intenção de me isolar ou querer ser melhor que os outros, mas é simplesmente
Porque eu sou assim mesmo, na minha, no meu canto. Sem querer parecer hipócrita, mas sou do tipo de pessoa que na maioria das vezes prefere servir mais do que ser servido. Isso não é querer ser metido a bom, mas sim uma forma de vida que escolhi pra mim. Ao contrário do que possa parecer, tenho muitos amigos; mas amigos que sei que posso contar com eles quando eu precisar.
Nesse mundo, tem pessoas que se “agradam” quando levam vantagens em algo. Explico: Há muita gente que vive puxando o saco de pessoas que tem uma elevada soma de dinheiro, achando que, assim terá mais chances de se dar bem. Coitadas dessas pessoas. Costumo dizer sempre que o dinheiro de pessoas ricas (economicamente falando) não paga minhas contas (exceto se eu trabalhar pra elas), ou essas mesmas pessoas não aparecem meio-dia em minha casa me trazendo algo pra comer ou beber.
Quando falamos em agradar, podemos citar a questão de relacionamentos. Quantas vezes já ouvi (e até vivi) situações em que uma mulher namora um homem, gostando dele, etc. Mas, as amigas dela (muitas por puro despeito, inveja), colocam mil e um defeitos no namorado da amiga. Ela, em vez de seguir seus próprios sentimentos, vão na onda das “amigas” e termina o relacionamento, só depois vindo a perceber que pode ter cometido um grave erro, mas talvez já sendo tarde demais para arrependimentos.
Se você se agradou de um móvel que quis comprar, não pergunte pra rua inteira se ele é bonito ou feio, porque assim sendo, você se surpreenderá com as respostas.
Gosto muito de filmes antigos. Assisto curtas-metragens do ano de 1895, de 1903, filmes de 1915, 1920. Filmes de todas as décadas. Filmes mudos, preto e branco. Filmes que, para muita gente são uma verdadeira tortura ficarem assistindo aquelas “velharias” quando podem se esbaldar com filmes recentes, coloridos, dublados, etc. Isso é uma questão de gosto. Gosto de sentir a essência do cinema, analisar os filmes minuciosamente, entender todo o seu processo. A maioria das pessoas assistem a filmes com a única e pura intenção de se divertir, nada mais que isso.
Não gosto de futebol, novelas, a maioria dessas programações de TV. Há pessoas que não desgrudam dessas programações. Tudo é uma questão de gosto, de se agradar com isso ou aquilo. Algumas pessoas às vezes me perguntam que tipo de mulher me agrada. Minha resposta é: agrado-me de todos os tipos físicos, alta, baixa, gorda, magra, branca, morena, negra. Isso não é o que faz qualquer diferença. O que faz a diferença é se ela é uma pessoa correta, sincera e amiga. O que não gosto em uma mulher é vê-la bebendo (detesto bebidas), vê-la dando gargalhadas que lembram filmes de terror, vê-la sendo abraçada por um e por outro, parecendo que é vulgar. Gosto de mulheres inteligentes, que saibam dialogar, interagir. Não gosto de mulheres que se acham acima de mim, do mesmo jeito que jamais me acho acima de ninguém.
Acho graça quando vejo que alguns homens não gostam de certas coisas, não porque eles achem de fato ruins, mas porque a sociedade impôs preconceitos a essas determinadas coisas. Por exemplo: Não gostar da animação Bambi (1940), porque o personagem principal desse filme é um filhote de cervo; só porque o animalzinho pode ser classificado também de veado (mamíferos da ordem dos artiodáctilos), onde no jogo do bicho o mesmo tem o número 24, e onde a palavra é "igualada" a "viado": homossexual. Isso é uma bobagem tão grande que acaba sendo pra lá de risível, uma forma estúpida de não gostar de uma bela animação. Muitos homens não gostam de balé ou danças de coreografias, porque os mesmos acham que todos ali são homossexuais. Outra grande bobagem. O genial coreógrafo Bob Fosse era heterossexual, e era fascinado, amorosamente dizendo, por várias mulheres.
Nada ou ninguém irá agradar a todos nessa vida. Entre dez pessoas, mesmo que a maioria goste de algo, sempre haverá um que não irá gostar. É sempre assim.

sábado, 11 de junho de 2011

X-Men: Primeira Classe



Em 2000, o filme X-Men inaugurou uma série de filmes da editora Marvel, uma das mais conceituadas do mundo. O filme conta a história de um grupo de mutantes, recrutado e liderado pelo professor Charles Xavier, um poderoso telepata. A missão: deter a ameaça do temível Magneto e seu grupo. Depois de duas seqüências (X-Men 2 e X-Men – O Confronto Final) e um filme solo do Wolverine (X-Men Origens – Wolverine), o grupo de mutantes retorna aos cinemas, dessa vez, respondendo algumas perguntas como: 1- Como Charles Xavier e Magneto se conheceram? 2 – Como foi criado o grupo? 3 – Por que há essa divisão entre mutantes bons e maus?

X-Men: Primeira Classe responde a essas e outras perguntas. O filme começa nos anos 40, quando o pequeno Erik Lehnsherr (futuro Magneto)vê sua mãe ser assassinada pelo terrível Sebastian Shaw (Kevin Bacon, de O Homem Sem Sombra). Quando cresce, Erik vai em busca de vingança. Anos 60, Erik (Michael Fassbender, de Bastardos Inglórios) descobre que Shaw (que retorna mais jovem, com poderes de absorver energia) está com um plano de colocar os Estados Unidos e a Rússia em guerra. Enquanto isso, o professor Charles Xavier (James McAvoy, de Desejo e Reparação) e sua amiga Raven (a bela Jennifer Lawrence, de Inverno da Alma) com a ajuda da Dra. Moira MacTaggert (Rose Byrne, de Extermínio 2) à serviço da Cia, vão atrás de
Em destaque, a bela Jennifer Lawrence
Shaw, em uma missão mal sucedida. É quando, Charles salva Erik, e ficam amigos. Estes dois começam a reunir e treinar jovens com poderes mutantes (há uma participação especial de um personagem bastante querido do público). Mas os planos de Erik se mostram outros, indo na contramão do que os mutantes procuravam: lutar em defesa dos humanos.
Revelar mais detalhes da história não seria algo correto de minha parte. Só basta dizer que se trata de um ótimo trabalho, fruto do diretor Matthew Vaughn, que tem em seu currículum obras divertidas como Stardust – O Mistério da Estrela (2007), e  Kick-ass - Quebrando Tudo (2010) Este último é o famoso filme em que a atriz mirim Chloe Moretz (que interpreta a filha de Nicolas Cage) rouba o filme, detonando bandidos de uma maneira poucas vezes vistas nas telas.
James McAvoy (Professor Charles Xavier)
X-Men: Primeira Classe traz a origem dos famosos mutantes, porém com um grande diferencial da história original dos quadrinhos criada por Stan Lee e Jack Kirby em 1963. Aliás, uma grande diferença. Nos quadrinhos, a formação original do grupo é composta pelo professor Xavier, Ciclope, Jean Grey, Fera, Homem de Gelo e Anjo. Dessa formação, apenas o professor Xavier e o Fera aparecem no filme, sendo que os outros são: Mística, Destrutor, Banshee e Angel Salvadore (uma personagem criada a pouco tempo nos quadrinhos). Do lado dos vilões, estão, além de Sebastian Shaw, Emma Frost (Rainha Branca), Azazel e Maré Selvagem. Como todo mundo sabe, Magneto futuramente se tornaria o maior inimigo dos X-men.
Elogiado pela crítica e pelo público, X-Men: Primeira Classe ao lado de Superman – O Filme (1978), X-Men 2 (2003), Homem-Aranha 2 (2004), Batman Begins (2005) e Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008), são os melhores exemplares de ótimos filmes de super-heróis levados às telas. Com um roteiro inteligente, X-Men: Primeira Classe mistura ação, mistério, drama e humor na medida certa.
Michael Fassbender (Magneto)
Os leitores de quadrinhos mais exigentes, certamente reclamarão que o filme se distancia bastante do conceito original. Eu, porém, mesmo acostumado com o universo dos quadrinhos, não me incomodei em nenhum momento com as liberdades tomadas pelo diretor Vaughn e o produtor Bryan Singer (diretor dos dois primeiros filmes). Se distancia dos quadrinhos, por outro lado, traz de qualquer forma outros personagens conhecidos e não estraga em nada; ao contrário, só acrescenta e torna mais rico alguns detalhes, como o fato de mostrar Charles Xavier antes de ficar careca e paraplégico, quando este ainda começava a dar aulas.
Eu não poderia deixar de falar do ótimo trabalho da dupla central de atores: James McAvoy, que torna convincente todas as suas cenas, mostrando mais uma vez que é um ator notável, e Michael Fassbender, ator alemão que dá um show na cena do bar em Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino. Também é de se destacar o talento de Jennifer Lawrence, uma jovem atriz que foi indicada ao Oscar por Inverno da Alma, e mostra que, além de muito talentosa, é também uma das mais belas atrizes do momento.
Depois dos recentes Homem de Ferro 2 e Thor, X-Men: Primeira Classe é outro acerto da Marvel. Aliás, o maior acerto desde Homem-Aranha 2.  



Nota: 5 de 5

Título original: X-Men: First Class



Lançamento: 2011 (EUA)

Direção: Matthew Vaughn



Elenco: James McAvoy, Michael Fassbender, Kevin Bacon, Jennifer Lawrence, Rose Byrne


Duração: 132 minutos

Aventura





domingo, 5 de junho de 2011

O escapismo artístico e mental

Nunca fui dessa onda de me achar cult ou intelectual, mas confesso que nunca gostei da arte popularesca, ou seja, o que o povão muito aplaude me cheira a banal demais. O povão brasileiro em sua grande maioria adora novelas, filmes “sessão da tarde” e reality shows. Qualquer coisa que empurram goela abaixo, a maioria aceita. Certa vez, um amigo me disse que não se pode viver exclusivamente de filé, é preciso comer também carne de terceira pra assim descobrir que o filé é ainda melhor do que se pensava, e também conhecer outra categoria de mundo como forma de arte menor, ou escapismo. Percebi que isso é uma grande verdade. Vejamos um bom exemplo: Às vezes eu estou em um dia que não estou muito a fim de raciocinar demais, então deixo um pouco os filmes clássicos ou de arte de lado, e vou atrás de um cinema “escapista”, aqueles filmes que você assiste pra passar o tempo, mera diversão mesmo, sem nenhum compromisso de se fazer uma análise crítica maior, e também fugir um pouco da realidade, preferindo também filmes que não retratem tanto o nosso dia-a-dia. É somente nessas horas que filmes tipo a saga Crepúsculo ou Carga Explosiva por exemplo, são bem vindos, porque você não precisa queimar os neurônios, já vem tudo mastigado. Acho que é legal que se faça uma dosagem de vez em quando com o que é o filé e o que é carne de segunda ou terceira. Mas é claro que só de vez em quando, porque assimilar muita bobagem nos deixa sem noção crítica se a nossa intenção é obter um crescimento cultural. Claro que nem todo mundo pensa assim.
Mas convenhamos, há um limite até mesmo pra o que é “escapismo”. Logicamente não é nada louvável se ater a qualquer porcaria só porque se quer comer o osso de vez em quando. Por exemplo: você gosta de uma programação mais inteligente na TV (se é que existe inteligência na TV atualmente no Brasil), obviamente não vai ficar a tarde toda em frente da TV assistindo todas as baboseiras toscas daqueles programas de auditório no domingo a tarde, que ultrapassa todos os limites do bom senso e principalmente, de ruindade. Esses dias à noite, eu estava chegando em casa, quando vi um programa passando na TV (tem tempo que assisti algo na TV) e parei pra dar uma olhada. Era um programa de auditório muito ruim, mas ao menos era engraçado, onde, nem o apresentador, os calouros e muito menos os jurados se levavam a sério, talvez a graça maior esteja aí: saberem que o programa já é ruim e terem o bom senso de saber brincar com isso, sem se levar a sério, como fazem alguns “apresentadores” no domingo a tarde. Se for pra desleixar um pouco a mente, que seja pelo menos com algo que, mesmo que seja ruim, não seja ofensivo. Já assisti muita TV, hoje não me faz mais falta ficar em frente de uma TV, assimilando muita coisa que não presta. Lógico que há exceções, mas numa varredura geral, pouca coisa se salva. Até os telejornais de hoje são fracos, sensacionalistas demais, sempre com apelações pra ganhar da concorrência. O que vale na mídia hoje não é qualidade, é IBOPE.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Batman - A Piada Mortal



Em 1988, o aclamado escritor Alan Moore junta-se ao desenhista Brian Bolland para criarem a mais emblemática luta entre o bem e o mal nas histórias em quadrinhos (HQs) envolvendo um justiceiro mascarado (Batman) e um sádico criminoso (Coringa). Trata-se de Batman - A Piada Mortal (Batman – The Killing Joke), uma das HQs mais aclamadas por crítica e público. Nela, vemos o Batman descobrindo que o Coringa fugiu mais uma vez do Asilo Arkham, mas dessa vez a fuga traz conseqüências desastrosas para o homem-morcego. O Coringa em uma vingança contra o comissário Gordon, atira em sua filha Bárbara Gordon (ex-Batgirl), deixando-a paralítica, ao mesmo tempo em que tortura Gordon de várias maneiras, mostrando a este fotos horríveis com sua filha agonizando. Para o Batman, capturar o psicótico vilão dessa vez é questão pessoal. Em flashbacks, ficamos conhecendo o passado do Coringa, quando este era chamado Jack Napier, um artista circense que se envolve com mafiosos e vê sua esposa grávida morrer em um acidente. Napier, durante a fuga em uma ação criminosa que dá errado, acaba sendo perseguido pelo Batman e cai dentro de um tonel de produtos químicos, que o faz ficar com o rosto transformado. No presente, o Batman seguindo as pistas, chega até o Coringa, e começa aí um acerto de contas que terminará de forma inesperada.
Em A Piada Mortal, o Coringa tenta provar que um dia muito ruim na vida de um homem pode transformá-lo, pra pior. Nesse caso, ele queria ter certeza que o comissário Gordon, homem de confiança do Batman, se tornaria um psicótico quando passasse por torturas e humilhações e culminasse quando soubesse que sua filha foi brutalmente agredida e colocada para sempre em uma cadeira de rodas. Para Alan Moore, o Coringa nada mais é do que um reflexo de um passado atormentado e trágico. Assim como o Batman teve seus pais assassinados quando este era pequeno, ao crescer, adotou a identidade de um vigilante justiceiro e resolveu combater o crime, o Coringa agiu de forma contrária: ao passar pela tragédia, ele resolveu intensificar todo o horror, espalhando o caos para não “se sentir só” em seu pranto. O que temos aqui é uma história do Batman, porém com um foco centralizado no seu maior adversário.
O Coringa sempre foi o vilão mais insano das HQs. Em A Morte de Robin, ele tortura e mata o menino-prodígio. Em Asilo Arkham, ele está a frente de uma terrível rebelião daquele lugar sombrio. Em O Cavaleiro das Trevas, ele mostra que seu sadismo não tem limites, resultando em seu fim nas mãos do já cansado e velho homem-morcego.
O Coringa apareceu pela primeira vez nos quadrinhos, no ano de 1940, na primeira edição da revista própria do Batman, criação de Bob Kane e Bill Finger, que se basearam no ator Conrad Veidt ( O Gabinete do Dr. Caligari, Casablanca) no filme O Homem que Ri (de 1928). 


Conrad Veidt em O Homem que Ri (1928)

No cinema, o Coringa foi interpretado em 1966 pelo ator César Romero , no longa metragem Batman, o Homem-Morcego, estrelado por Adam West e Burt Ward (havia uma série cômica de TV no mesmo formato e com os mesmos atores). Em 1989, no filme Batman, o diretor Tim Burton (que tem A Piada Mortal como sua HQ preferida) colocou o ator Jack Nicholson na pele do Coringa, e lhe deu uma origem parecida com a da história de Alan Moore (somente a cena em que este cai no produto químico). O Coringa de Nicholson é debochado, irreverente (apesar de sádico também), diferente da imagem mais trágica criada por Alan Moore, e também por Frank Miller (em O Cavaleiro das Trevas). Em Batman - O Cavaleiro das Trevas (2008), o ator Heath Ledger (falecido no mesmo ano) criou a imagem definitiva do Coringa, onde o mesmo é terrivelmente insano, porém estrategista; não se revela de onde ele veio ou pra onde ele vai. É uma caracterização incrível, que rendeu postumamente para Ledger cerca de trinta prêmios (entre eles o Oscar e o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante) num trabalho realmente notável. Na TV, em Batman: The Animated Series o Coringa é dublado pelo ator Mark Hamill (O Luke Skywalker da série Star Wars – Guerra nas Estrelas).


Cesar Romero em Batman, o Homem-Morcego (1966)


Jack Nicholson em Batman (1989)


Heath Ledger em Batman - O Cavaleiro das Trevas (2008)


A Piada Mortal foi publicada e republicada aqui no Brasil diversas vezes, com cores refeitas pelo próprio desenhista Brian Bolland, substituindo o original feito por John Higgins, e chegando até a sair em preto e branco em uma das edições. História preferida de dez entre dez leitores, é uma obra inquietante, um verdadeiro marco no mundo dos quadrinhos.

Abaixo, a piada que o Coringa conta para o Batman, no final da história:



 "Tinha dois caras no hospício... Uma noite eles decidiram que não queriam mais viver lá... e resolveram escapar pra nunca mais voltar. Aí eles foram até a cobertura do lugar e viram, ao lado, o telhado de um outro prédio apontando pra lua... apontando para a liberdade! Então um dos sujeitos saltou sem problemas pro outro telhado, mas o amigo dele se acovardou... É, ele tinha medo de cair. Aí, o primeiro cara teve uma idéia. Ele disse:
-Ei! Eu estou com minha lanterna aqui. Vou acendê-la pelos vãos dos prédios e você atravessa sobre o facho de luz!
Mas o outro sacudiu a cabeça e disse:

- O que você acha que eu sou? Louco??? E se você apagar a luz quando eu estiver no meio do caminho?!"


terça-feira, 17 de maio de 2011

Infâmia



Em uma escola particular, uma aluna chateada (Karen Balkin), inventa para a sua avó (Fay Bainter) que duas professoras (Audrey Hepburn e  Shirley MacLaine) mantêm um relacionamento amoroso. A partir daí a rotina das acusadas muda drasticamente. O namorado de uma delas (James Garner) lhe dá apoio, mas aos poucos ele vai demonstrando insegurança, devido ao grande escândalo. A menina é neurótica, problemática, o que poderia fazer com que ela tenha inventado essa história, mas os fatos posteriores mostram que ela não está completamente errada.
O excelente diretor William Wyler refilma uma obra dele próprio, de 1936, baseada na peça da escritora norte-americana Lillian Helman. É um texto forte, maduro, bem avançado para a época, com toques psicológicos, tratando de um assunto que até então era raro nos cinemas no início dos anos 60: o homossexualismo.  
Infâmia é daqueles filmes que, se caísse em mãos de um diretor qualquer, resultaria em algo frio, esquemático, sem grande profundidade dramática. Mas Wyler não é um diretor qualquer, e sim um dos maiores gênios do cinema, que sabe conduzir como ninguém grandes atores em uma grande história, sem nunca se perder. Quando situamos esse filme em seu ano de produção (1961), percebemos que é uma obra que está além de seu tempo, porque diferentemente de alguns filmes da época que apenas contêm algumas conotações homossexuais, Infâmia apresenta uma gama de situações e conseqüências relacionadas diretamente ao homossexualismo. Para o expectador mais atento, ele verá de antemão que uma das professoras acusadas, Martha Dobie (MacLaine) apresenta uma atração no mínimo estranha, pela sua colega de profissão, ainda que nunca demonstre uma maior aproximação. A menina que cria toda a polêmica, é manipuladora e obsessiva, mas consegue tornar crível toda a situação, fazendo com que sua avó em certo momento diga para as acusadas: “Uma criança jamais inventaria tais coisas”. O que Wyler quer de fato mostrar não é se a menina está ou não inventando tudo, mas fazer um painel sobre duas vidas destruídas por algo que elas não vivem, afinal de contas, uma delas (Hepburn) está de casamento marcado. As acusadas se isolam no agora abandonado lugar de trabalho, e ali são alvos do desprezo das pessoas daquela cidade.  
O que Wyler não pôde fazer na primeira versão (lembrando que nos anos 30 vigorava o Código Hays, que censurava obras com teor homossexual, entre outros), ele conseguiu fazer em sua versão de 61, indo mais a fundo no texto de Lillian Hellman (que já foi casada com o famoso escritor Dashiell Hammett, autor de obras como O Falcão Maltês e A Ceia dos Acusados, que viraram filmes de grandes sucessos) apoiado em duas extraordinárias atrizes nos papéis principais. Lembrando que, Audrey Hepburn em seu primeiro grande filme em papel principal: A Princesa e o Plebeu, foi dirigida por Wyler. Esse conto de fadas metropolitano deu o Oscar para Hepburn e lhe abriu as portas para uma das carreiras mais brilhantes em Hollywood, em filmes como Sabrina, Cinderela em Paris, Uma cruz à beira do abismo, Bonequinha de Luxo, Charada e Uma Bela Dama (My Fair Lady), entre outros. Shirley MacLaine também teve uma bela carreira, começando em um filme de Alfred Hitchcock: O Terceiro Tiro, fazendo posteriormente entre outros, os aclamados Deus Sabe Quanto Amei, Se Meu Apartamento Falasse, Irmã La Douce, Muito Além do Jardim e Laços de Ternura (de 1983, que lhe deu o Oscar de melhor atriz). James Garner muito jovem faz o namorado de Hepburn, e Fay Bainter que interpreta a avó da menina, ganhou um Oscar de melhor atriz por Jezebel (1938), dirigido por Wyler.
William Wyler foi um diretor de carreira brilhante, muito requisitado por produtores e atores, todos queriam trabalhar com ele, porque sabiam que seus filmes eram sinônimos de qualidade. Foi ele quem ajudou a tornar Bette Davis uma das maiores estrelas do cinema, com filmes como Jezebel e A Carta. Em 1942, dirigiu o premiado Rosa de Esperança; em 1946 faria Os Melhores Anos de Nossas Vidas que lhe deu seu segundo Oscar de direção, mas ainda foi premiado mais uma vez nessa categoria, pelo épico Ben-Hur (1959, primeiro filme a levar 11 estatuetas da Academia). Wyler dirigiu em 1939 a melhor versão de O Morro dos Ventos Uivantes.
Em Infâmia, podemos perceber que o isolamento das duas professoras acusadas, e o preconceito que elas vivem, se assemelha bastante com a situação vividas pela mãe e irmã do personagem principal em Ben-Hur, no qual estando com lepra, se isolam no vale dos leprosos, em uma das seqüências mais emocionantes da história do cinema.
Infâmia é um filme no qual não há saída fácil, não procura solucionar os problemas, deixando que as duas personagens vão em busca de explicações do qual não há respostas, culminando em um final trágico. Indicado aos Oscars de atriz coadjuvante (Bainter), Direção de Arte, Figurino, Fotografia e Som.
Imperdível para quem busca um filme denso e atemporal.


Nota: 5 de 5

Título original: The
Children's Hour

Lançamento: 1961 (EUA)

Direção: William Wyler

Elenco: Audrey Hepburn, Shirley MacLaine, James Garner, Fay Bainter, Karen Balkin.

Duração: 114 minutos

Drama