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domingo, 31 de julho de 2011

Vá e Veja




Bielorrússia, 1942, em meio a Segunda Guerra, o adolescente Florya une-se a um grupo anti-nazista, mesmo contra a vontade de sua mãe. Ao sair de casa naquele momento e se aliando àquele grupo de resistência, Florya estará saindo e vendo o que até então ele desconhecia pessoalmente. A trajetória do jovem é nada menos que brutal, a começar pelo mau tratamento do próprio exercito que ele acabara de compor. Em meio a isso, o pior estaria por vir: bombas alemãs atingem o vilarejo onde eles estão, resta a Florya fugir dali juntamente com uma moça que parece ser um caso mal explicado do líder do pelotão. O nome dela é Glasha. Mas o pesadelo de Florya estará apenas começando, quando ele descobre algo bárbaro ao voltar para casa. Ao sair em busca de alimento para o povo de seu vilarejo, ele acaba por vivenciar uma das piores atrocidades praticadas pelos nazistas: o extermínio de toda uma aldeia.
Se o enredo dessa história pareceu forte, prepare-se, você precisa vê-lo em imagens. Algumas das cenas mais impactantes do cinema estão contidas em Vá e Veja, um dos registros mais ferozes da guerra já feitos. Quase duas horas e meia de um doloroso processo de sobrevivência. Para Florya, a morte está em cada passo, em cada tiro, em cada olhar, em cada sombra, em cada palavra expressa. Ele sabe que, suas chances de sair vivo dali são mínimas. Mas ainda assim, surdo em decorrência de bombas, e aparentemente louco, ele luta com todas as forças para escapar daquele tormento.
O diretor Elem Klimov revolucionou a arte de fazer cinema, com uma narração nada menos que espetacular, onde o som tem uma importância fundamental. Mas são as chocantes imagens que dão toda a dimensão do horror vivido. Sua técnica de filmagem é impressionante, revelando um cineasta fabuloso, mas que infelizmente era (e ainda é) desconhecido pelo grande público fora de seu país. Klimov faleceu em 2003, mas deixou além de outras obras, a maior jornada fílmica de medo e dor dos últimos tempos: Vá e Veja.
Baseado em sua própria infância em meio a guerra, Klimov não poupa seu protagonista e nem o público, despejando uma sucessão de acontecimentos que mais se assemelham a um filme de terror. Aliás, é no terror que Vá e Veja mais se concentra, quando vemos o jovem Florya no início bem arrumado, e quando o vemos no final. Só sabemos que é a mesma pessoa porque o acompanhamos em sua jornada, caso contrário seria difícil dizer que o Florya do desfecho, envelhecido e cheio de marcas, é aquele mesmo jovem do início. A espantosa transformação física de Florya é o retrato de toda a guerra, os horrores do Holocausto, a luta para não morrer de forma gratuita. Dizem que o ator Alexei Kravchenko (brilhante, no papel de Florya), teria sido hipnotizado, afim de não sofrer sobrecarga emocional e danos mentais, tamanha a força das cenas.
As cenas de Vá e Veja impressionam, e muito. Só para se ter uma idéia, a jovem Glasha ao conhecer Florya, é mostrada de forma sinistra. Ela, com os olhos visivelmente vesgos, ao mirar em Florya, nos é mostrada como num filme de suspense, quando chegamos a querer que a cena mude de foco. Mas ao contrário de seu novo amigo, Glasha vai se humanizando, demonstrando mais sanidade e percepção, como no momento em que ela percebe que algo está terrivelmente errado na casa de Florya.
A loucura e o medo está presente a todo momento em Vá e Veja. O único momento de descontração de Florya é quando ele e Glasha estão na chuva, e ela dança pra ele. De resto, só vemos o horror incutido em cada cena.
E horror é o que melhor define as cenas finais quando vemos a mais chocante barbárie já mostrada nas telas, feita por soldados nazistas. São alguns minutos de pura dor e revolta, que dificilmente sairá de nossa mente. Simplesmente chocante, onde a selvageria animal dos soldados alemãos vai de estrupos a assassinatos. Ao final, um momento antológico, quando Florya atira no passado, fazendo com metaforicamente, a guerra e seu mentor Adolf Hitler sumam da existência humana. É um desfecho no mínimo genial, um grito de revolta contra o mal em sua essência mais concreta existente no século 20.
Um dos melhores filmes de guerra de todos os tempos, Vá e Veja não é uma obra recomendada apenas para cinéfilos ou estudantes de cinema, mas também para todos que buscam conhecer um dos períodos mais tristes e cruéis da história humana. Porém, nunca é demais avisar que se trata de um filme forte e brutal, onde, quem é mais sensível a imagens de forte impacto, deve de certa forma evitar em ver. Quem se aventurar em embarcar na jornada de medo e loucura de Vá e Veja, jamais irá esquecê-lo. 


Nota: 5 de 5

Título original: Idi i smotri

Lançamento: 1985 (Rússia)

Direção: Elem Klimov

Elenco: Aleksei Kravchenko, Olga Mironova, Liubomiras Lauciavicius, Vladas Bagdonas, Juris Lumiste

Duração: 142 minutos

Drama/Guerra



terça-feira, 26 de julho de 2011

Os Sofrimentos do Jovem Werther



Em 1774, surgiria na França uma obra literária que daria início ao Romantismo (movimento que teria entre seus principais idealizadores no Brasil, nomes como José de Alencar na prosa e Castro Alves na poesia). Esta obra: Os Sofrimentos do Jovem Werther, do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe. 
Werther é um jovem apaixonado por Charlotte, mas esta é comprometida com Alberto, que logo se casam. Werther, amigo de Alberto, continua nutrindo um amor escondido pela sua amada. Sabendo que, nenhuma chance lhe resta nesse amor, o jovem apaixonado vai levando a vida, até que em certa noite, ele arquiteta sua própria morte, impondo de forma direta uma dolorosa consciência de culpa em Charlotte.
Como se vê, Os Sofrimentos do Jovem Werther é uma história de amor, com altas doses de reflexão e melancolia. Mas o primeiro livro da Escola Romântica diferia das obras posteriores (sejam elas européias ou do continente americano) por alguns motivos, o principal deles era o final trágico. Enquanto que, a maioria das obras do Romantismo tinha um desfecho por vezes alegre ou de certa forma otimista, em Werther a conclusão é trágica. 

Esse texto, com suas denotações e conotações amorosas, contém em sua característica muitos elementos do Romantismo, mas a forma contextual também mistura alguns elementos do Realismo (movimento literário surgido na França no século posterior, com a publicação de Madame Bovary, de Gustave Flaubert, em 1857), ainda que em alguns casos seja menos perceptível. Em forma epistolar, Os Sofrimentos do Jovem Werther, se assemelha em forma narrativa ao francês As Relações Perigosas (há um filme maravilhoso adaptado dessa obra, com o título de Ligações Perigosas, de 1988).
As cartas que Werther escreve, são dirigidas a um editor chamado Wilhelm, responsável pela publicação das mesmas, após a morte do jovem. A narrativa de Goethe em toda a obra é rica, repleta de detalhes, de emoção e dor.

“Você não me espera mais, acreditando que eu lhe obedecerei, que só a verei na véspera de Natal! Ó Charlotte, hoje ou nunca. Na véspera de Natal, você terá em mãos este papel, estremecerá, molhará esta carta com as suas lágrimas queridas. Eu quero ... e preciso! ... Oh! como me sinto feliz por haver tomado uma resolução!”

 Goethe utilizou Werther como espelho de si mesmo, sendo que o autor também sofreu por amor, colocando-lhe um final que talvez o mesmo o desejasse, ainda que evidentemente isso não acontecesse. A obra foi um enorme sucesso na época de seu lançamento, tornando-se talvez a mais importante obra literária alemã, superando até mesmo Fausto, do mesmo autor, não em qualidade, mas em significado de valor cultural.
O que torna Os Sofrimentos do Jovem Werther mais curioso e enigmático foi o fato de que, na época de sua publicação, esta obra acabou levando várias pessoas a cometerem suicídio na Europa, criando uma verdadeira onda de desespero, fazendo com que autoridades viessem a proibir a publicação e venda desse livro. Obviamente, é bastante discutível essa ação coletiva de suicídios, mas com o passar dos anos, o público amadureceu, e a obra resistiu ao tempo, e hoje está entre as preferidas de milhões de leitores em todo o mundo.



terça-feira, 12 de julho de 2011

Lavoura Arcaica


  
 Por mais que existam defensores fervorosos do cinema nacional, é indiscutível que o nosso cinema ainda tem muito que aprender a contar histórias mais humanas sem cair em excessos ou se tornar uma obra enfadonha feita por algum diretor pseudo-intelectual. Mas devemos tirar o chapéu quando o cinema brasileiro acerta, pois quando assim o faz, faz de forma perfeita. Um pouco antes da obra-prima Cidade de Deus arrasar nos cinemas, um diretor de TV simplesmente ousou levar às telas uma obra do difícil escritor Raduan Nassar. Difícil porque Nassar é autor complexo, de linguagem revolucionária e de difícil compreensão. Suas obras não são lineares, suas histórias vão e voltam no tempo, pegando pelo rabo leitores de primeira viagem que ainda não estão acostumados a navegarem em textos mais enigmáticos e pouco elucidativos. 
Mello, o filho atormentado
Esse diretor de TV é Luiz Fernando Carvalho, e a obra em questão é Lavoura Arcaica. Carvalho trabalhava com projetos televisivos quando se encantou com o livro de Nassar e resolveu fazer dele uma obra fílmica. Para isso, ele não adaptou a obra em forma de roteiro como é comum se fazer, ele simplesmente arrancava o que era narrado no livro e o jogava nas filmagens, na intenção de ser o mais fiel possível à obra. Carvalho sabia que, com idéias tão inovadoras em mente, consequentemente teria que reunir um grupo de atores consagrados que conseguisse passar de forma magistral todo aquele drama vivido pelos personagens. Em um ensaio de atores que durou quatros meses, estava Selton Mello, que vive o atormentado André (o coração do filme), Raul Cortez (o pai), Julianda Carneiro da Cunha (a mãe), Leonardo Medeiros (o irmão Pedro), Caio Blat (o irmão Lula) e Simone Spoladore (a irmã Ana).
Em uma família de libaneses que vive no Brasil, a autoridade exercida pelo pai faz com que o jovem André saia de casa e resolva viver de forma mais livre, mas as coisas não vão bem como ele esperava, fazendo com que seu imão a pedido da mãe, vá buscá-lo de volta. Ao chegar em um sujo quarto de pensão onde seu irmão está hospedado, Pedro o vê sofrendo, vítima de bebidas e remédios. Depois de abandonar o lar, André se tornou uma pessoa doente e equizofrênica, derrubado pelas suas próprias convicções errôneas de mundo. Porém, o que mais lhe aflige é um segredo do passado, envolvendo um caso de incesto com sua irmã Ana. Ao voltar para casa, André precisa confrontar o severo pai e, ao mesmo tempo conviver com uma paixão desenfreada pela própria irmã. Evitarei entrar em maiores detalhes da história pra não atrapalhar o prazer de quem ainda não assistiu. Basta dizer que é uma história forte e amarga (ainda que feita de forma poética), envolvendo amores proibidos e a busca pela redenção.
 
Raul Cortez, o pai autoritário

Lavoura Arcaica é isso, um filme sobre uma família que se despedaça aos poucos, uma fonte de água que aos poucos vai secando. Seus personagens aparentemente vivem de forma alegre, descontraída, mas no fundo carregam frustrações, desejos reprimidos, valores distorcidos e sentimentos que extravasam.
A linguagem é diferente do que foi feito até hoje no cinema brasileiro; as frases, diálogos e narrações soam estranhos, mas nunca de forma chata ou redundante. As imagens são as mais belas e poéticas já vistas no cinema brasileiro. A narrativa retrocede e adianta no tempo, de forma às vezes brusca. Tudo isso, somado a mais de duas horas e meia de projeção. Resumindo: Não é uma obra fácil, requer paciência e compreensão dos desacostumados com um cinema mais artístico, muito longe das inúmeras bobagens que se vê nos dias de hoje no cinema nacional. Diga-se aí as comédias descartáveis e romances pedantes.
O diretor Luiz Fernando Carvalho até o momento só fez este filme para o cinema e um curta-metragem de 1986, chamado À Espera. Mas na TV, é conhecido especialmente por algumas novelas e por microsseries revolucionárias como Hoje é Dia de Maria, Capitu (baseado em Dom Casmurro, de Machado de Assis) e A Pedra do Reino. Mas o grande momento de Carvalho na TV é sem dúvida a mini-serie Os Maias (baseado no romance homônimo de Eça de Queirós), uma obra-prima que, em minha opinião foi a melhor coisa que a TV brasileira já produziu até hoje. Um trabalho fantástico que é um primor de técnica e interpretação.
O escritor Raduan Nassar tem poucas obras publicadas. É dele também o livro Um Copo de Cólera, que igualmente foi filmado (em 1999). Um filme que considero como um dos piores que já tive o desprazer em assistir. Há quem goste muito, mas eu particularmente não vi absolutamente nada que agradasse, em uma obra feia, ridícula e totalmente descartável. Nunca li a obra em que o mesmo se baseia, mas prefiro achar que tal filme tenha muito pouco de Nassar contido nele. Mas a genialidade de Nassar, que sabe falar tão bem de libaneses, porque ele próprio é filho de imigrantes vindos da Líbia, é vista de forma exemplar em Lavoura Arcaica
Selton Mello ainda não era tão querido pelo grande público quando fez Lavoura Arcaica, e nem era conhecido por seus talentos também como diretor. Aqui, ele está formidável, naquela que é uma das melhores interpretações masculinas da história do nosso cinema. Um verdadeiro Tour de Force de um ator, em um trabalho não menos que excepcional.
Simone Spoladore, a irmã conflituosa
Seu embate com o pai (Cortez, outro grande ator em cena), em especial na cena do sultão, se transforma em um duelo de interpretação. A mãe sufocadora feita de forma sensível e minimalista por Juliana Carneiro da Cunha é uma das personagens mais emotivas dos últimos tempos. Leonardo Medeiros interpreta de forma brilhante o irmão mais velho. Simone Spoladore, atriz dos palcos, estréia aqui, consagrando-se em uma das carreiras mais sólidas do cinema nacional, se destacando posteriormente em produções como Desmundo (2003) e o belo O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006).
Uma verdadeira poesia em movimento, com imagens fortes e inesquecíveis e muito lirismo, Lavoura Arcaica é um dos poucos filmes do cinema brasileiro atual que merece ser chamado de obra-prima.


Nota: 5 de 5

Título original: Lavoura Arcaica



Lançamento: 2001 (Brasil)

Direção: Luiz Fernando Carvalho



Elenco: Selton Mello, Raul Cortez, Simone Spoladore, Leonardo Medeiros, Juliana Carneiro da Cunha e Caio Blat


Duração: 163 minutos



Drama


                                    


sexta-feira, 8 de julho de 2011

Site Iguaímix - Agradecimento especial



Recebi uma linda camisa do site Iguaímix das mãos de meu amigo Ronecson, responsável pela parte administrativa e de publicidade do site. Em Iguaímix eu comento sobre cinema. É um ótimo canal de conhecimento sobre a cidade de Iguaí (Ba), e ao mesmo tempo traz notícias não só da cidade, mas estendendo a outros assuntos de fora. Uma das coisas que acho legal em participar do site, é que seus admistradores não se limitam apenas a publicarem textos sobre filmes atuais, mas também a clássicos de difícil acesso, como Uma das coisas que acho mais legal em participar do site, é que seus admistradores não se limitam apenas a publicarem textos sobre filmes atuais, mas também clássicos de difícil acesso ou de arte como 12 Homens e uma sentença, Entre os Muros da Escola, Amantes e Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita.
Iguaímix é um site que já nasceu grande, com milhares de acessos mensal, e admiradores não só da Bahia, mas também de outras regiões do Brasil.


Meus agradecimentos a toda a equipe do Iguaímix.


http://www.iguaimix.com/