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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Uma Rua Chamada Pecado


Quase 60 anos depois, o clássico Uma Rua Chamada Pecado demonstra sua força e só fica ainda melhor com o tempo. E não é difícil entender o fascínio que esse filme causa entre os cinéfilos que sabem apreciar um ótimo filme. Aqui temos Marlon Brando em um de seus primeiros papéis, interpretando o temperamental Stanley Kowalski, um homem que domina os sentimentos de sua esposa Stella Kowalski. Stanley é explosivo, imprevisível e rude, mas manipula a esposa através de sentimentos e desejos. Mas este vê as coisas dificultarem para o seu lado quando a cunhada Blanche DuBois vai visitá-los. Blanche é o inverso de Stanley, ela é frágil, indecisa e desiludida, uma mulher em busca de respostas, mas fugindo de um passado problemático com o marido que se suicidou. Stella, esposa de Stanley tenta se opor aos anseios deste, mas acaba por sucumbir sempre aos truques e provocações, por vezes chantagens emocionais. Blanche não se agrada do comportamento de Stanley, e condena suas atitudes grosseiras. Começa aí um choque de idéias e comportamentos. Mitch, um amigo de Stanley começa a cortejar Blanche e tratá-la com cavalheirismo, indo contra as atitudes do amigo, elevando ainda mais a discórdia naquela casa.
Baseado na peça teatral Um Bonde Chamado Desejo, do dramaturgo americano Tennessee Williams, esse texto é uma das mais contundentes manifestações artísticas dos anos 40, uma obra-prima que o diretor Elia Kazan só fez engrandecer ainda mais em sua versão cinematográfica. Poucas vezes na tela do cinema um filme funcionou tão perfeitamente quanto Uma Rua Chamada Pecado. A direção de Kazan é primorosa, uma verdadeira aula cineematogáfica. Kazan é conhecido por ter sido um dos fundadores do Actors Studio, uma associação que tinha por objetivo formar atores com um alto índice de qualidade nas interpretações. Ganhou seu primeiro Oscar dirigindo Gregory Peck no sucesso anti-semita A Luz é para Todos (1947). O segundo seria com Sindicato de Ladrões (1954). Sempre conduziu magistralmente seus atores, entre eles James Dean em Vidas Amargas (1954). E é em Uma Rua Chamada Pecado que reside talvez a atuação de um elenco mais magistral da história do cinema. Nunca um filme conseguiu ter atores tão excepcionais em inteira sintonia. Dos quatro atores principais, vamos começar por Marlon Brando, que na minha opinião foi o maior ator do cinema mundial de todos os tempos. Brando era de um carisma fora de série. Seu método de interpretação era intensa, única. Aluno do Actors Studio, Brando além de Uma Rua Chamada Pecado, brilhou muito em filmes como Viva Zapata! (de 1952, onde faz um inesquecível mexicano no papel-título, dirigido por Kazan), Júlio César (1953, no papel de Marco Antonio), Sindicato de Ladrões (1954, ganhando seu primeiro Oscar, em outro filme de Elia Kazan), O Poderoso Chefão (1972, ganhando seu segundo Oscar, no qual ele recusou ir recebê-lo), O Último Tango em Paris (1973, uma das maiores interpretações masculinas de todos os tempos) e Apocalypse Now (1979, ele aparece pouco tempo como o transtornado coronel Kurtz, mas é suficiente pra roubar o filme). Pra quem gosta do cinema comercial, Brando é mais conhecido pelo filme Superman, onde interpreta o pai verdadeiro do homem de aço. Vivien Leigh fez alguns filmes alguns filmes e faleceu mais de 30 anos antes do que os outros três atores principais com os quais ela contracena; sua morte foi no ano de 1967. Vivien teve sua primeira aparição no cinema com o célebre clássico ...E o Vento Levou (no inesquecível papel de Scarlett O’Hara), um dos melhores filmes de todos os tempos no qual ela ganhou seu primeiro Oscar de melhor atriz, o que se repetiria em Uma Rua Chamada Pecado. Daí pra frente Vivien já havia se tornado uma das grandes estrelas de Hollywood. Um de seus maiores sucessos foi A Ponte de Waterloo. Karl Malden (falecido no ano passado) foi um dos atores mais confiáveis de Hollywood e um dos mais talentosos. Trabalhou em conjunto com Marlon Brando em alguns filmes, entre eles A Face Oculta (1961, único filme dirigido por Brando). Kim Hunter foi a segunda do elenco a falecer (em 2002). Ela é mais lembrada pelo sucesso O Planeta dos Macacos (1968) em que faz a personagem Zira, uma macaca que ajuda os humanos. Por Uma Rua Chamada Pecado Malden e Hunter venceram os Oscars de ator e atriz coadjuvante, respectivamente.
O texto de Tenessee Williams era bastante ousado para a época, pois falava de relacionamentos conturbados, desejos reprimidos (Fica subentendido que Blanche sentia atração por Stanley), insinuações sexuais, tendências homossexuais e vários outros assuntos que pra época era algo que não se discutia em qualquer lugar. O título original A Streetcar Named Desire não foi traduzido corretamente aqui no Brasil, possivelmente por conter a palavra “desejo”, sendo substituído por Uma Rua Chamada Pecado. A peça escrita em 1947 (quatro anos antes do filme) foi encenada nos palcos americanos. por Marlon Brando, Jessica Tandy (de Conduzindo Miss Daisy), Kim Hunter e Karl Malden. Vivien Leigh participou da versão londrina, ao lado de Bonar Colleano e Renee Asherson.
Uma Rua Chamada Pecado é um filme que cresce à medida que a tensão entre seus protagonistas vão aumentando, culminando na cena em que Stanley descobre o segredo do passado de Blanche e não hesita em contar pra todos ali, acabando de vez com aquela mulher amargurada. Entre as cenas mais marcantes, a que mais se destaca é aquela que Brando chega na frente de sua casa e grita: Hey, Stela! Toda essa cena é de um primor extraordinário.
Estranhamente, dos quatro atores principais em cena, Brando foi o único a não ser premiado com o Oscar. O filme também levou o Oscar de melhor direção de arte. Foram quatro prêmios entre onze indicações.
Uma Rua Chamada Pecado é o maior exemplo de como se adaptar uma peça teatral para as telas sem se tornar chato e cansativo. Um clássico absoluto.



Nota: 5 de 5

Ttitulo original: Streetcar Named Desire

Lançamento: 1951 (EUA)

Direção: Elia Kazan

Atores: Marlon Brando, Vivien Leigh, Karl Malden e Kim Hunter

Duração: 125 minutos

Drama



Um comentário:

  1. Caro, seu blog sempre magnifico!

    Este é um dos meus filmes de cabeceira!!!

    Sou fã e acho um absurdo Brando nao ter merecido o oscar, mas vai entender, nao?

    As atuaçoes, a forma como os atores se destacam e o teor sexual que eu venero neste filme! abs

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