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terça-feira, 2 de março de 2010

O Processo de Franz Kafka



















O Escritor tcheco Franz Kafka não é conhecido de muita gente, inclusive em nosso país onde o hábito da leitura é tão grande quanto uma bola de ping-pong. Até mesmo alguns leitores vorazes de obras máximas da literatura não conhecem Kafka, ou ao menos não o conhecem na íntegra. As obras desse escritor não é o que podemos chamar de leitura ligeira, ou algo que está mastigado pra leitores que não têm a intenção de pensar um pouco mais.
O Processo é o romance mais famoso de Kafka, o mais lido e estudado. É também o que mais se aproxima da persona do autor. Ao ler o Processo (ou qualquer outra de suas obras), nos vemos presos em labirintos e emaranhados de situações sufocantes. Um pesadelo se inicia na mente de um personagem, ele sabe que aquilo é real, mas as circunstâncias apontam pra algo que está além de sua compreensão. Assim é Josef K. Um homem comum que certo dia é acordado em seu próprio quarto por homens que o acusam de um crime, e que devem levá-lo pra prestar contas com o sistema penal. Depois, K é submetido à toda sorte de interrogatórios, tribunais esquizofrênicos, fatos inusitados, pessoas confusas e indiferentes ao seu drama. K não pode contar com muito apoio, uma vez que é incompreendido por muitos, tem o apoio de poucos. Suas idas e vindas por becos escuros, lugares estranhos e passagens que parece não levá-lo a lugar algum, o faz duvidar do presente e temer o futuro. Afinal, ele foi acusado de algo que nem ele mesmo sabe o que é. Seus acusadores lhe colocam em situações ameaçadoras onde a cada hora que passa, ele vê que não tem mais pra onde fugir. Depois de várias tentativas de se livrar dessa acusação sem motivos, K se vê frente a frente novamente com os homens que o acusaram, culminando aí numa defesa do réu e consequentemente em sua punição fatal. Quem conhece as obras de K e sua biografia, sabe que seus textos se confundem com sua própria vida. Em O Processo por exemplo, temos a inicial K do personagem, a mesma do autor; a justiça penal: Kafka era advogado; tentativas frustrantes do personagem K em encontrar uma saída pra o que lhe acometera: Kafka era reprimido pelo pai, isso o perseguiu durante toda sua vida, seus esforços em querer vencer eram sufocados pela presença autoritária do pai. Kafka tentou se casar três vezes, mas não conseguia levar isso adiante. Sua vida foi marcada por sucessivos transtornos de auto-rejeição. Lembrando que, não estamos falando de um homem que experimentara a fama de ser um grande escritor, como por exemplo, o russo Leon Tolstoi e o francês Emile Zola experimentaram em vida. Kafka não publicou nenhuma de suas obras, e perto de morrer, pediu ao grande amigo Max Brod que queimasse suas obras. Este, depois da morte de Kafka sabia que deveria publicar essa coleção de obras-primas, mesmo que algumas delas (inclusive o próprio O Processo) estivessem inacabadas. De fato, Brod não poderia ter sido mais feliz em sua atitude, uma vez que, Franz Kafka era um escritor fenomenal, dono de obras de caráter únicos, imparciais e intrigantes. Sabe-se que Kafka escrevia enigmas em forma de narrativas, seus textos eram a chave pra se entender o próprio Kafka. Vejamos alguns exemplos em suas obras mais conhecidas:
Em Da Colônia Penal, é mostrado uma máquina de execução humana. Suas irmãs morreriam tempos depois em Campos de Concentração durante a Segunda Guerra.
Carta a Meu Pai descreve correspondências do autor ao seu pai Herrmann Kafka, sua indignação e um aparente desprezo por essa figura paterna que faria dele um homem fragmentado e fracassado emocionalmente, levando-o a achar sempre incapaz e mostrar um nível de inferioridade que o levaria à morte precoce.
A Metamorfose mostra um homem que se vê certo dia transformado em um inseto. Uma alusão ao seu estado de impotência em não ter forças pra levar uma vida fora do âmbito familiar, sendo massacrado pela inconformidade de sua própria existência (Kafka era pessimista, viajou muito, conheceu vários lugares e pessoas, mas no fim de tudo, voltava pra casa e se prendia em suas angústias, não conseguia se libertar de seus traumas).
O Castelo (talvez sua obra mais complexa), o agrimensor K (mais uma vez sua própria inicial) não consegue se aproximar do Castelo no qual foi chamado pra fazer um trabalho, ficando “preso” em um vilarejo cheio de pessoas estranhas e mais uma vez indiferentes ao seu estado físico e emocional; remetendo-nos ao complexo de vida que Kafka levava consigo, suas frustrações em não conseguir se aproximar do que lhe era pretendido em teoria. O Castelo serve como uma metáfora: seria aquela construção o lugar onde Kafka deveria alcançar o auto-conhecimento, suas descobertas de vida que o levaria ao sucesso como ser humano. Mas de alguma forma, lhe é impedido a entrada ali.
Enfim, em O Processo, Kafka nos direciona ao que não tem direção, ao vazio da vida de um homem que não consegue se encontrar. Um reflexo de todos nós: quem já não foi alguma vez na vida acusado de algo que não cometeu? Quem já não se viu calado por forças que impunham uma situação de intolerância moral, social ou emocional? Quem já não se sentiu sufocado em não conseguir provar que poderia ir além do que as circunstâncias diziam não ser possíveis? (uma forma de arbitrariedade em que nos vemos presos em alguns momentos de nossas vidas)
O Processo foi levado às telas em 1963 pelo genial Orson Welles. O ator Anthony Perkins (Psicose) interpreta Josep K.
Recomendo a quem procura uma leitura de alta qualidade, não apenas O processo, mas também todas as obras citadas aqui.
Agradeço à minha amiga Daniana em sugerir o comentário dessa obra.

2 comentários:

  1. Maravilhoso comentário. Com certeza "O Processo" foi o livro mais complicado que li, realmente foi um processo pra compreender (kkk). Parabéns, Kley.

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  2. Bom dia, parabéns pelo excelente blog. Escrevi artigo sobre a DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E "O PROCESSO" DE FRANZ KAFKA. Se puder conferir é só acessar meu blog: www.marapauladearaujo.blogspot.com
    desde já, sigo-o.
    Felicidades

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