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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Diretores e seu melhor filme - Primeira parte



 Fiz uma lista de cada diretor e seu melhor filme, não segundo o gosto popular e da crítica (ainda que em alguns casos haja semelhanças), mas seguindo meu gosto pessoal.

Alfred Hitchcock
Psicose (1960)
Uma das muitas obras-primas de Hitchcock, Psicose é tido por muitos como o maior suspense já realizado. A cena do chuveiro foi depois muito imitada, e o psicopata Norman Bates entrou para a história.

Pedro Almodóvar
Fale Com Ela (2002)
Um dos melhores filmes da década passada, fale Com Ela mistura sentimentos, relações e perda, em uma história inusitada e poética. Oscar de Roteiro Original.

Woody Allen
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)
Filme que consagrou a genialidade de Allen. Um romance original numa mistura de comédia e drama. Vencedor de 4 Oscars.

Stanley Kubrick
O Iluminado (1980)
Os melhores filmes de terror são aqueles onde tudo é mais sugerido do que mostrado. E Kubrick sabia disso quando colocou um Jack Nicholson enlouquecido em um enorme hotel.

Akira Kurosawa
Rashomon (1950)
O maior diretor japonês da história do cinema nos mostra um crime pelo ponto de vista de 3 pessoas. Um dos melhores filmes da Sétima Arte. Oscar de Filme Estrangeiro.

Steven Spielberg
A Lista de Schindler (1993)
O Holocausto nunca mais seria o mesmo depois que Spielberg transpôs para as telas a trajetória de Oskar Schindler para salvar a vida de vários judeus. Vencedor de 7 Oscars.

Martin Scorsese
Touro Indomável (1980)
A excelente interpretação de Robert De Niro e a genial direção de Scorsese dão o tom nesse filme sobre um lutador de boxe, suas vitórias e derrotas. Vencedor de 2 Oscars.

Quentin Tarantino
Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994)
Mafiosos, lutas de boxes desleais e um assalto que dá errado nessa obra-prima de Tarantino que revolucionou a forma de fazer cinema. Seu segundo filme. Oscar de Roteiro Original.

Jean-Luc Godard
O Demônio das Onze Horas (1965)
Um homem insatisfeito com a vida encontra em uma mulher o motivo para fugir. Porém, a busca por novas motivações terá seu preço. Considerados por muitos como o melhor filme de Godard.

Federico Fellini
Oito e Meio (1963)
Um diretor de cinema  entra em crise. Enquanto isso, lembranças de todas as mulheres que passaram em sua vida começam a torná-lo alguém diferente. Vencedor de 2 Oscars.

Ingmar Bergman
Gritos e Sussurros (1972)
Um dos filmes mais tristes que o cinema já produziu. Bergman fala aqui de dor, sofrimento e a busca pela redenção. Oscar de melhor fotografia.

Francis Ford Coppola
Apocalypse Now (1979)
A busca por um coronel que enlouqueceu em plena selva é o ponto de partida desse filme de guerra visto como um pesadelo. Marlon Brando rouba todas as cenas em que aparece. Vencedor de 2 Oscars. 

Orson Welles
Cidadão Kane (1941)
Votado por muitos como o melhor filme já feito, Cidadão Kane tem o melhor roteiro já visto na história do cinema e um final inesquecível. Excelente em todos os sentidos.. Oscar de Roteiro Original.

Charles Chaplin
Tempos Modernos (1936)
Um sátira à industrialização, Tempos Modernos é também o primeiro filme em que Chaplin introduziria o som. Um dos maiores clássicos da história.

Tim Burton
Ed Wood (1994)
Burton homenageia o cinema, contando a verdadeira história de Ed Wood, do pior diretor de todos os tempos. Em uma cena, Wood encontra Orson Welles. Vencedor de 2 Oscars.

Roman Polanski
Chinatown (1974)
Considerado uns dos melhores roteiros do cinema, Chinatown é um noir colorido, uma trama de mistério com um final antológico. Oscar de Roteiro Original.

David Lynch
O Homem Elefante (1980)
Um homem tem uma rara doença que deformou seu rosto, e tenta viver na sociedade, mas esbarra no preconceito das pessoas. Um dos filmes mais tristes do cinema.

Brian De Palma
Os Intocáveis (1987)
De Palma tem aqui seu melhor momento, levando às telas a história do incorruptível Elliot Ness em sua determinação em prender o terrível mafioso Al Capone.

Hayao Miyazaki
A Viagem de Chihiro (2002)
O mestre da animação japonesa conta a história de uma menina de 10 anos que entra em mundo fantástico e misterioso. Oscar de melhor animação.

Bernardo Bertolucci
O Conformista (1970)
Durante o Fascismo na Itália, um homem recebe uma missão, enquanto acaba se envolvendo demais com uma bela mulher. Grande trabalho de Bertolucci.

John Ford
Rastros de Ódio (1956)
O genial diretor Ford mostra um homem em busca da sobrinha seqüestrada por índios. Ao saber que ela se tornou um deles, ele pretende matá-la. Um dos melhores westerns de todos os tempos

Clint Eastwood
Os Imperdoáveis (1992)
Eastwood dirigiu este que é o melhor western em mais de 20 anos, contando a história de um homem velho que vai em busca de alguns homens que cortaram o rosto de uma prostituta. Vencedor de 4 Oscars.

François Truffaut
A Noite Americana (1973)
O próprio Truffaut interpreta o diretor que comanda uma equipe de filmagem. Uma das maiores homenagens do cinema ao próprio cinema. Oscar de melhor filme estrangeiro.

Michelangelo Antonioni
A Aventura (1960)
Uma mulher desaparecida, a busca incessante por algo que faça sentido e uma história de amor improvável. Antonioni e o início de sua trilogia da incomunicabilidade.

Billy Wilder
Quanto Mais Quente Melhor (1959)
Dois músicos se vestem de mulheres para não serem mortos, e o encontro com uma estonteante Marilyn Monroe. Uma das melhores comédias do cinema. Oscar de figurino preto-e-branco.

Walter Salles
Central do Brasil (1998)
A amizade entre uma mulher de meia idade e um garoto em uma viagem pelo interior do Brasil. Um dos filmes mais premiados do cinema nacional.


sábado, 17 de setembro de 2011

O Triunfo da Vontade



Em 1934, aconteceu na Alemanha mais um Congresso Nacional-Socialista, onde eram expostos os ideais nazistas, reunindo milhares de alemães, civis, militares e principalmente Adolf Hitler e sua cúpula. Até aí tudo normal, se não fosse por um detalhe: a diretora e ex-atriz Leni Riefenstahl, uma artista que vinha de filmes que se passavam em montanhas geladas. Insatisfeito com a falta de qualidade dos registros de seus discursos, Adolf Hitler vê em Riefenstahl, a pessoa ideal para dar pompa e magnitude aos registros de propagandas naquele ano em Nuremberg. Algo que ficasse marcado na História. E o ditador não estava errado.
Os congressos eram armas perfeitas para alienar a imensa multidão que se reunia para ver e ouvir todo aquele discurso de superioridade, promessas e façanhas. Tudo era registrado pelas lentes de Riefenstahl. Porém, o que seria apenas uma simples filmagem com Hitler, seus seguidores e soldados, se transformou em algo maior, essas filmagens confirmaram que Riefenstahl era uma cineasta genial, uma verdadeira força de talento que usava sua câmera sempre de modo magistral, gigantesco, sem nunca cair no lugar-comum. Para conseguir efeitos devastadores, Riefenstahl (com todo o aval de Hitler) mandou construir equipamentos que facilitassem sua câmera de “passear” por diversos lugares, seja horizontal ou verticalmente, sem que houvesse obstáculo algum. E o que se vê demonstra que as técnicas utilizadas por Riefenstahl revolucionaram o processo cinematográfico. Uma triste ironia, sendo que eram nesses congressos que se reafirmava o domínio de idéias insanas que culminaram com o que hoje todos nós conhecemos: massacres, extermínios em massa, sofrimentos e barbáries. Mas não se pode analisar uma obra apenas pelo ponto de vista técnico, deixando de lado o que tal obra se propõe a dizer. 


As técnicas utilizadas por Riefenstahl captavam todo aquele “espetáculo”, de forma a que tudo parecesse épico. Começa com Hitler chegando de avião a cidade de Nuremberg (cidade onde exatamente anos depois foram julgados os líderes nazistas), depois o ditador dá uma volta pela cidade, onde são mostrados os moradores acenando e glorificando-o. Não é poupado cenas de soldados em demonstrações de fidelidade ao Fuhrer. Aliás, não apenas os soldados lhes juravam fidelidade, mas também as filiações e partido, onde não cansavam de dizer: “A Alemanha é Hitler, Hitler é a Alemanha”. Tudo parecia encenado, ao som de músicas clássicas, bandeiras, símbolos nazistas, aviões, etc. As cenas de milhares de soldados marchando é no mínimo impressionante, e até mesmo aterrorizante, quando sabemos que a real intenção daquele exército era de exterminar milhões de pessoas que não se "encaixavam" nos modelos arianos apresentados por Hitler.
É espantoso ver que milhões de pessoas se deixavam levar pelos terríveis discursos de seu “mentor”. Onde Hitler ia, adultos e crianças faziam questão de estarem por perto, cumprimentar o tirano. Olhavam-no com tanta admiração que nos faz pensar que houve uma lavagem cerebral coletiva naquele povo, porque de outro modo não dá para entender o motivo que fazia com que Hitler, um homem de aparência patética, até mesmo risível, com um bigode quadrado, uma figura chapliniana (o próprio Charles Chaplin o imitou de forma brilhante em O Grande Ditador) pudesse inflamar tanta admiração de um povo que se recuperava da perda na Segunda Guerra. No entanto, era isso mesmo que Hitler sabia usar muito bem: causar naquele povo o espírito de uma nação derrotada que deveria se reerguer, marchar e lutar pela vitória. 


Se Hitler era ridículo em sua aparência, sabia usar de sua incrível oratória para levar toda uma nação ao caos, fazendo acreditar em histórias de superioridades de raças e outros delírios incríveis que pareciam tirados da mitologia grega. Riefenstahl sabia disso muito bem, e utilizou esses discursos eloqüentes para dar asas à sua imaginação e focar no que aquele congresso e aquela cidade tinham a oferecer: um belo panorama, um“estúdio” ou “laboratório”, onde tudo é muito gigantesco, e que em alguns momentos nos faz lembrar filmes épicos no estilo Ben-Hur e Lawrence da Arábia. Nunca se viu tantas pessoas reunidas em um só lugar, um verdadeiro espetáculo onde milhares de soldados, moradores da cidade e a alta cúpula nazista (Josef Goebbels, Hermann Göring, Rudolf Hess, entre muitos outros aliados), com seus sorrisos, aplausos e proclamações de fidelidade ao tirano, deixavam crer que eles realmente acreditavam em tudo aquilo.
Riefenstahl usava um truque genial e até então pouco utilizado no cinema: a câmera ao filmar os discursos de Hitler e seus seguidores, era colocada mais baixa, fazendo com que eles parecessem grandes, imponentes, um recurso que Orson Welles utilizaria em Cidadão Kane (repare na cena do discurso); o diretor japonês Yasujiro Ozu também gostava de filmar com a câmera mais baixa.
Os discursos inflamados pareciam bem melhores sob as lentes de Riefenstahl. Até mesmo bobagens panfletárias ditas por Hitler como: “Não é o Estado que nos criou, mas nós é que criamos o Estado”, parece soar de maneira triunfante. 

Afinal de contas, o que é O Triunfo da Vontade? Para muitos, a maior propaganda de guerra já realizada; há quem ache que seja um jogo de alienação. Mas serve também como uma análise: o cinema também pode ser uma arma quando cai em mãos erradas?
Sim, é bem provável, uma vez que Hitler e sua cúpula utilizaram da Sétima Arte como veículo pra vários filmes onde se exaltava o patriotismo. Esses filmes mostravam jovens se alistando no intuito de morrerem se fosse preciso, tudo pela causa nazista, tudo em nome de Hitler. Geralmente eram filmagens amadoras feitas pela Juventude Hitlerista. Riefenstahl apareceu para revolucionar a maneira de se fazer cinema-propaganda (é dela também o famoso documentário Olympia). Infelizmente ela estava do lado errado e pagou por isso. Depois da Segunda Guerra, Riefenstah foi acusada de usar prisioneiros em seus filmes. Só foi condenada a 4 anos de prisão, mas devido ao seu envolvimento em projetos nazistas (ela sempre negou ser afiliada de tal partido), foi boicotada e nunca mais conseguiu financiamento para seus filmes. Acabou trabalhando com fotografia submarina.
Analisando O Triunfo da Vontade como técnica revolucionária e esquecendo um pouco que se trata de um poderoso discurso de propaganda de guerra, notamos que se trata de uma aula de cinema. Porém, se não dá para esquecer as arbitrariedades proclamadas por Hitler, ao menos podemos ver que por trás daqueles discursos inflamados em Nuremberg se escondia uma das maiores cineastas da história. 


Leni Riefenstahl (centro)






Nota: 5 de 5

Título original: Triumph des Willens



Lançamento: 1935 (Alemanha)

Direção: Leni Riefenstahl



Elenco: Adolf Hitler, Josef Goebbels, Hermann Göring, Rudolf Hess, etc.
 
Duração: 114 minutos



Documentário