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sábado, 17 de setembro de 2011

O Triunfo da Vontade



Em 1934, aconteceu na Alemanha mais um Congresso Nacional-Socialista, onde eram expostos os ideais nazistas, reunindo milhares de alemães, civis, militares e principalmente Adolf Hitler e sua cúpula. Até aí tudo normal, se não fosse por um detalhe: a diretora e ex-atriz Leni Riefenstahl, uma artista que vinha de filmes que se passavam em montanhas geladas. Insatisfeito com a falta de qualidade dos registros de seus discursos, Adolf Hitler vê em Riefenstahl, a pessoa ideal para dar pompa e magnitude aos registros de propagandas naquele ano em Nuremberg. Algo que ficasse marcado na História. E o ditador não estava errado.
Os congressos eram armas perfeitas para alienar a imensa multidão que se reunia para ver e ouvir todo aquele discurso de superioridade, promessas e façanhas. Tudo era registrado pelas lentes de Riefenstahl. Porém, o que seria apenas uma simples filmagem com Hitler, seus seguidores e soldados, se transformou em algo maior, essas filmagens confirmaram que Riefenstahl era uma cineasta genial, uma verdadeira força de talento que usava sua câmera sempre de modo magistral, gigantesco, sem nunca cair no lugar-comum. Para conseguir efeitos devastadores, Riefenstahl (com todo o aval de Hitler) mandou construir equipamentos que facilitassem sua câmera de “passear” por diversos lugares, seja horizontal ou verticalmente, sem que houvesse obstáculo algum. E o que se vê demonstra que as técnicas utilizadas por Riefenstahl revolucionaram o processo cinematográfico. Uma triste ironia, sendo que eram nesses congressos que se reafirmava o domínio de idéias insanas que culminaram com o que hoje todos nós conhecemos: massacres, extermínios em massa, sofrimentos e barbáries. Mas não se pode analisar uma obra apenas pelo ponto de vista técnico, deixando de lado o que tal obra se propõe a dizer. 


As técnicas utilizadas por Riefenstahl captavam todo aquele “espetáculo”, de forma a que tudo parecesse épico. Começa com Hitler chegando de avião a cidade de Nuremberg (cidade onde exatamente anos depois foram julgados os líderes nazistas), depois o ditador dá uma volta pela cidade, onde são mostrados os moradores acenando e glorificando-o. Não é poupado cenas de soldados em demonstrações de fidelidade ao Fuhrer. Aliás, não apenas os soldados lhes juravam fidelidade, mas também as filiações e partido, onde não cansavam de dizer: “A Alemanha é Hitler, Hitler é a Alemanha”. Tudo parecia encenado, ao som de músicas clássicas, bandeiras, símbolos nazistas, aviões, etc. As cenas de milhares de soldados marchando é no mínimo impressionante, e até mesmo aterrorizante, quando sabemos que a real intenção daquele exército era de exterminar milhões de pessoas que não se "encaixavam" nos modelos arianos apresentados por Hitler.
É espantoso ver que milhões de pessoas se deixavam levar pelos terríveis discursos de seu “mentor”. Onde Hitler ia, adultos e crianças faziam questão de estarem por perto, cumprimentar o tirano. Olhavam-no com tanta admiração que nos faz pensar que houve uma lavagem cerebral coletiva naquele povo, porque de outro modo não dá para entender o motivo que fazia com que Hitler, um homem de aparência patética, até mesmo risível, com um bigode quadrado, uma figura chapliniana (o próprio Charles Chaplin o imitou de forma brilhante em O Grande Ditador) pudesse inflamar tanta admiração de um povo que se recuperava da perda na Segunda Guerra. No entanto, era isso mesmo que Hitler sabia usar muito bem: causar naquele povo o espírito de uma nação derrotada que deveria se reerguer, marchar e lutar pela vitória. 


Se Hitler era ridículo em sua aparência, sabia usar de sua incrível oratória para levar toda uma nação ao caos, fazendo acreditar em histórias de superioridades de raças e outros delírios incríveis que pareciam tirados da mitologia grega. Riefenstahl sabia disso muito bem, e utilizou esses discursos eloqüentes para dar asas à sua imaginação e focar no que aquele congresso e aquela cidade tinham a oferecer: um belo panorama, um“estúdio” ou “laboratório”, onde tudo é muito gigantesco, e que em alguns momentos nos faz lembrar filmes épicos no estilo Ben-Hur e Lawrence da Arábia. Nunca se viu tantas pessoas reunidas em um só lugar, um verdadeiro espetáculo onde milhares de soldados, moradores da cidade e a alta cúpula nazista (Josef Goebbels, Hermann Göring, Rudolf Hess, entre muitos outros aliados), com seus sorrisos, aplausos e proclamações de fidelidade ao tirano, deixavam crer que eles realmente acreditavam em tudo aquilo.
Riefenstahl usava um truque genial e até então pouco utilizado no cinema: a câmera ao filmar os discursos de Hitler e seus seguidores, era colocada mais baixa, fazendo com que eles parecessem grandes, imponentes, um recurso que Orson Welles utilizaria em Cidadão Kane (repare na cena do discurso); o diretor japonês Yasujiro Ozu também gostava de filmar com a câmera mais baixa.
Os discursos inflamados pareciam bem melhores sob as lentes de Riefenstahl. Até mesmo bobagens panfletárias ditas por Hitler como: “Não é o Estado que nos criou, mas nós é que criamos o Estado”, parece soar de maneira triunfante. 

Afinal de contas, o que é O Triunfo da Vontade? Para muitos, a maior propaganda de guerra já realizada; há quem ache que seja um jogo de alienação. Mas serve também como uma análise: o cinema também pode ser uma arma quando cai em mãos erradas?
Sim, é bem provável, uma vez que Hitler e sua cúpula utilizaram da Sétima Arte como veículo pra vários filmes onde se exaltava o patriotismo. Esses filmes mostravam jovens se alistando no intuito de morrerem se fosse preciso, tudo pela causa nazista, tudo em nome de Hitler. Geralmente eram filmagens amadoras feitas pela Juventude Hitlerista. Riefenstahl apareceu para revolucionar a maneira de se fazer cinema-propaganda (é dela também o famoso documentário Olympia). Infelizmente ela estava do lado errado e pagou por isso. Depois da Segunda Guerra, Riefenstah foi acusada de usar prisioneiros em seus filmes. Só foi condenada a 4 anos de prisão, mas devido ao seu envolvimento em projetos nazistas (ela sempre negou ser afiliada de tal partido), foi boicotada e nunca mais conseguiu financiamento para seus filmes. Acabou trabalhando com fotografia submarina.
Analisando O Triunfo da Vontade como técnica revolucionária e esquecendo um pouco que se trata de um poderoso discurso de propaganda de guerra, notamos que se trata de uma aula de cinema. Porém, se não dá para esquecer as arbitrariedades proclamadas por Hitler, ao menos podemos ver que por trás daqueles discursos inflamados em Nuremberg se escondia uma das maiores cineastas da história. 


Leni Riefenstahl (centro)






Nota: 5 de 5

Título original: Triumph des Willens



Lançamento: 1935 (Alemanha)

Direção: Leni Riefenstahl



Elenco: Adolf Hitler, Josef Goebbels, Hermann Göring, Rudolf Hess, etc.
 
Duração: 114 minutos



Documentário

Um comentário:

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