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domingo, 21 de fevereiro de 2010

A Fita Branca















Em uma cena do clássico Julgamento em Nuremberg (1961), o personagem de Spencer Tracy (um juiz americano encarregado de presidir um julgamento de quatro carrascos nazistas após o término da Segunda Guerra), pergunta a dois empregados alemães se eles não sabiam o que estava acontecendo ali durante o Holocausto. Sua dúvida é significativa, uma vez que a barbárie foi tão intensa, fica a dúvida: Até onde cada cidadão sabia? Por que os alemães deixaram que todo aquele horror se estendesse a uma coletividade tão grande? Por eu o povo alemão deixou ocorrer tamanha atrocidade? O que os teriam levado a isso? É essa última pergunta que vemos a base do filme A Fita Branca (2009), dirigido pelo austríaco Michael Haneke.
Numa aldeia alemã, antes da Primeira Guerra Mundial, as pessoas ali, vivem de acordo às regras patriarcais, regras essas, exercidas por mãos de ferro, onde impera a autoridade máxima dos chefes de famílias. Há ali um pastor que pune brutamente seus filhos, chegando a amarrar um deles na cama pra que este não volte a se masturbar; uma de suas filhas é colocada em pé de castigo por uma bobagem praticada (A fita branca do título é amarrada nos braços de seus filhos em forma de “purificar seus pecados”). Em outra família, um pai molesta a própria filha, humilha a amante e não consegue ter aproximação com seu filho menor. Um outro pai espanca um filho por este ter lhe omitido algo. Em meio a essas repressões, começam a acontecer crimes pequenos e grandes, que vão de violência física a tentativas de assassinato e até assassinato.
Os adultos agem com rigor excessivo, as mulheres são humilhadas, as crianças são submetidas a altos graus de repreensão. Tudo isso eleva os ânimos daquela aldeia a um estado de medo, ira, revolta e indignação. Haneke com isso nos mostra uma geração de crianças que, tomadas por tais sentimentos, cresceriam e viriam a tomar para si a causa do Nazismo, abraçando-o como uma verdadeira base de vida a ser seguido. Essas crianças seriam o protótipo do ideal proposto por Adolf Hitler, onde os filhos dessa “herança maldita” fariam parte da juventude Hitlerista e consequentemente ajudariam a causar um dos maiores temores já vistos na história da humanidade: O Holocausto. A figura paterna de Hitler, com seus discursos imponentes e autoritários, seria uma substituição psicológica para aquelas pessoas que viviam em lares desafetuosos, cheio de regras e punições.
Em A Fita Branca, os atos de maldade praticados contra deficientes (Hitler não gostava de deficientes, mandou exterminar vários deles), crianças e adultos se tornam símbolo da intolerância social, enraizado no meio onde se vive, remetendo a algo como o Naturalismo. Mas segundo o próprio diretor, sua obra vai além disso, é atemporal, não se limita a uma época ou grupo social apenas.
Nas obras de Haneke, o mal é algo do qual não se tem controle, é uma força que não tem como se sair dela. Como em seu Violência Gratuita (1997, refilmado posteriormente pelo mesmo diretor em 2007), a maldade é o centro das atenções.
Narrado em off por um professor daquela aldeia, ele se mostra uma das únicas pessoas a não ser contaminado por tudo aquilo, mas buscando respostas para os crimes ali cometidos. Talvez o fato dele viver só, contribua para que não seja mais um deles a ser alvo de suas próprias punições.
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes e do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro (e possível vencedor do Oscar nessa mesma categoria), A Fita Branca é de longe, um dos filmes mais polêmicos de 2009. Muitos gostaram, outros odiaram. Mas uma coisa é certa: é uma obra que levanta muitas discussões, e isso é algo raro no cinema nos dias de hoje.




Nota: 4 de 5


titulo original: Das Weisse Band - Eine Deutsche Kindergeschichte

lançamento: 2009 (Áustria) (França) (Alemanha) (Itália)

direção: Michael Haneke

Atores: Burghart Klaubner, Susanne Lothar, Ulrich Tukur, Josef Bierbichler, Marisa Growaldt, Christian Friedel, Leonie Benesch.

duração: 144 min

gênero: Drama

Um comentário:

  1. Mais uma vez o Oscar surpreendeu e não deu o prêmio de filme estrangeiro a um vencedor do Globo de ouro na mesma categoria, que foi o caso dessa vez do alemão A Fita Branca. Quem acabou levando o prêmio foi o filme argentino O Segredo dos Seus Olhos,que ainda não assisti. De qualquer maneira é um segundo Oscar pra Argentina, mostrando que o Brasil tem muito que aprender se um dia quiser ser premiado também, e parar de fazer só comédias bobas ou biografias pretensiosas de celebridades e políticos.

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