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terça-feira, 17 de maio de 2011

Infâmia



Em uma escola particular, uma aluna chateada (Karen Balkin), inventa para a sua avó (Fay Bainter) que duas professoras (Audrey Hepburn e  Shirley MacLaine) mantêm um relacionamento amoroso. A partir daí a rotina das acusadas muda drasticamente. O namorado de uma delas (James Garner) lhe dá apoio, mas aos poucos ele vai demonstrando insegurança, devido ao grande escândalo. A menina é neurótica, problemática, o que poderia fazer com que ela tenha inventado essa história, mas os fatos posteriores mostram que ela não está completamente errada.
O excelente diretor William Wyler refilma uma obra dele próprio, de 1936, baseada na peça da escritora norte-americana Lillian Helman. É um texto forte, maduro, bem avançado para a época, com toques psicológicos, tratando de um assunto que até então era raro nos cinemas no início dos anos 60: o homossexualismo.  
Infâmia é daqueles filmes que, se caísse em mãos de um diretor qualquer, resultaria em algo frio, esquemático, sem grande profundidade dramática. Mas Wyler não é um diretor qualquer, e sim um dos maiores gênios do cinema, que sabe conduzir como ninguém grandes atores em uma grande história, sem nunca se perder. Quando situamos esse filme em seu ano de produção (1961), percebemos que é uma obra que está além de seu tempo, porque diferentemente de alguns filmes da época que apenas contêm algumas conotações homossexuais, Infâmia apresenta uma gama de situações e conseqüências relacionadas diretamente ao homossexualismo. Para o expectador mais atento, ele verá de antemão que uma das professoras acusadas, Martha Dobie (MacLaine) apresenta uma atração no mínimo estranha, pela sua colega de profissão, ainda que nunca demonstre uma maior aproximação. A menina que cria toda a polêmica, é manipuladora e obsessiva, mas consegue tornar crível toda a situação, fazendo com que sua avó em certo momento diga para as acusadas: “Uma criança jamais inventaria tais coisas”. O que Wyler quer de fato mostrar não é se a menina está ou não inventando tudo, mas fazer um painel sobre duas vidas destruídas por algo que elas não vivem, afinal de contas, uma delas (Hepburn) está de casamento marcado. As acusadas se isolam no agora abandonado lugar de trabalho, e ali são alvos do desprezo das pessoas daquela cidade.  
O que Wyler não pôde fazer na primeira versão (lembrando que nos anos 30 vigorava o Código Hays, que censurava obras com teor homossexual, entre outros), ele conseguiu fazer em sua versão de 61, indo mais a fundo no texto de Lillian Hellman (que já foi casada com o famoso escritor Dashiell Hammett, autor de obras como O Falcão Maltês e A Ceia dos Acusados, que viraram filmes de grandes sucessos) apoiado em duas extraordinárias atrizes nos papéis principais. Lembrando que, Audrey Hepburn em seu primeiro grande filme em papel principal: A Princesa e o Plebeu, foi dirigida por Wyler. Esse conto de fadas metropolitano deu o Oscar para Hepburn e lhe abriu as portas para uma das carreiras mais brilhantes em Hollywood, em filmes como Sabrina, Cinderela em Paris, Uma cruz à beira do abismo, Bonequinha de Luxo, Charada e Uma Bela Dama (My Fair Lady), entre outros. Shirley MacLaine também teve uma bela carreira, começando em um filme de Alfred Hitchcock: O Terceiro Tiro, fazendo posteriormente entre outros, os aclamados Deus Sabe Quanto Amei, Se Meu Apartamento Falasse, Irmã La Douce, Muito Além do Jardim e Laços de Ternura (de 1983, que lhe deu o Oscar de melhor atriz). James Garner muito jovem faz o namorado de Hepburn, e Fay Bainter que interpreta a avó da menina, ganhou um Oscar de melhor atriz por Jezebel (1938), dirigido por Wyler.
William Wyler foi um diretor de carreira brilhante, muito requisitado por produtores e atores, todos queriam trabalhar com ele, porque sabiam que seus filmes eram sinônimos de qualidade. Foi ele quem ajudou a tornar Bette Davis uma das maiores estrelas do cinema, com filmes como Jezebel e A Carta. Em 1942, dirigiu o premiado Rosa de Esperança; em 1946 faria Os Melhores Anos de Nossas Vidas que lhe deu seu segundo Oscar de direção, mas ainda foi premiado mais uma vez nessa categoria, pelo épico Ben-Hur (1959, primeiro filme a levar 11 estatuetas da Academia). Wyler dirigiu em 1939 a melhor versão de O Morro dos Ventos Uivantes.
Em Infâmia, podemos perceber que o isolamento das duas professoras acusadas, e o preconceito que elas vivem, se assemelha bastante com a situação vividas pela mãe e irmã do personagem principal em Ben-Hur, no qual estando com lepra, se isolam no vale dos leprosos, em uma das seqüências mais emocionantes da história do cinema.
Infâmia é um filme no qual não há saída fácil, não procura solucionar os problemas, deixando que as duas personagens vão em busca de explicações do qual não há respostas, culminando em um final trágico. Indicado aos Oscars de atriz coadjuvante (Bainter), Direção de Arte, Figurino, Fotografia e Som.
Imperdível para quem busca um filme denso e atemporal.


Nota: 5 de 5

Título original: The
Children's Hour

Lançamento: 1961 (EUA)

Direção: William Wyler

Elenco: Audrey Hepburn, Shirley MacLaine, James Garner, Fay Bainter, Karen Balkin.

Duração: 114 minutos

Drama





2 comentários:

  1. Gostei muito desse post, Kley. Posso publicá-lo no meu blog?
    Abraços,

    O Falcão Maltês

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  2. Antônio, será um prazer ter algo meu publicado em seu blog.
    Um abraço!

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