Há diretores que, ao chegarem em uma idade mais avançada, se
perdem com filmes banais, e há diretores que mostram que o passar dos anos só
lhes fez bem. E o tempo só fez bem a William Friedkin, diretor de obras densas
como Operação França (1971), O Exorcista (1973) e O Comboio do Medo (1977). O
primeiro quebra as regras do bom policial ao mostrar o determinado policial
Popeye (brilhantemente interpretado por Gene Hackman) em uma determinada caçada
contra um terrível chefão das drogas pelas ruas de São Francisco. O segundo deu
uma nova cara aos filmes de terror, com algumas das sequências até então nunca
vistas ou imaginadas pelo público. O terceiro, refilmagem do clássico O Salário
do Medo (de Henry Clouzot), mostra quatro homens em um país latino, com a
ingrata missão de transportar nitroglicerina em transportes precários e
estradas arruinadas.
Mas o “rebelde” Friedkin assim como Francis Ford Coppola já
não mostrava mais grande força nas décadas seguintes e apresentava obras aquém
de seu talento (Viver e Morrer em Los Angeles era uma das poucas exceções). Mas
eis que ele surge em grande estilo com Killer Joe, um filme que realmente tem
sua marca.
Em Killer Joe, um jovem fracassado (Emily Hirsch) convence
seu pai (Thomas Haden Church) a matar a
mãe, e assim ficarem com o seguro de vida dela. Para isso, eles contratam um
assassino de aluguel que também é policial (Matthew McConaughey) para executar
o maligno plano. A irmã (Juno Temple) do jovem acaba sendo o adiantamento do
“serviço”, satisfazendo o assassino, fazendo que este comece também a fazer
parte da família. Porém, assim como
outros filmes sobre ganância (como O Tesouro de Sierra Madre, Fargo e Um Plano
Simples), algo dá errado, fazendo com que a consequência seja nada menos que
trágica. Daí pra frente tudo vira uma sucessão de tropeços e acerto de contas.
Curiosamente, o grande diretor Sidney Lumet, já bem idoso,
faria Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto (seu último filme), uma história
sobre crime em família envolvendo dinheiro. A comparação desse filme com Killer
Joe não pode ser ignorada, ainda que se trate de histórias diferentes.
Mas Killer Joe não seria tão bom e impactante se não tivesse
também um bom elenco à frente. McConaughey está excelente no papel do assassino
Joe. Sua caracterização sutil e ao mesmo tempo explosiva, está entre as grandes
interpretações do ano. Se ele ficar de fora das indicações aos grandes prêmios
será uma grande injustiça. Hirsch e Church se saem muito bem. Porém, quem tem o
papel mais corajoso é Gina Gershon. No papel da esposa dedicada do pai da
família, Gershon protagoniza ao lado de McConaughey uma das cenas mais fortes e
inesquecíveis dos últimos anos. Nessa sequência final, uma coxa de galinha vira
um grande pesadelo familiar. Gershon já havia mostrado talento ao interpretar
uma lésbica em Ligadas pelo Desejo (dos irmãos Warchowski).
Em Killer Joe ninguém presta, e eles sabem disso. Trata-se
de personagens com atitudes insanas, em sua maioria desprovidas de qualquer
sentimento de culpa (em alguns momentos alguém se mostra arrependido). Falar
demais sobre Killer Joe pode estragar as surpresas e diminuir o impacto. Vale
falar apenas que o filme já começa de forma diferente, e assim segue até seu final
tenso e brutal. A interpretação de McConaughey é um show a parte.
Nota: 4 de 5
Título original: KIller Joe
Lançamento: 2012 (EUA)
Direção: William Friedkin
Elenco: Matthew McConaughey, Emily Hirsch, Thomas Haden Church, Gina Gershon, Juno Temple.
Duração: 102 minutos
Suspense/Policial